terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O estado em que ficou o posto do Garrafão. Na serra, cerca de 70 carros foram destruídos

  Tragédias de Teresópolis


     Em 12 de janeiro de 2011, Teresópolis viveu a sua maior tragédia. O número de mortos passou de trezentos e o de residências destruídas ou afetadas foi enorme, cerca de 1.500 casas! O número de desabrigados ultrapassou 3 mil, certamente a maior onda de destruição que o município já viu e hoje, enquanto aguardam a construção das casas populares prometidas pelo Estado, cerca de 3 mil pessoas ainda vivem do aluguel social.
     O episódio remete a uma reflexão: precisamos entender melhor o nosso ambiente. Não seríamos vítimas de trombas d’água e inundações se não agredíssemos tanto o planeta, se não esgotássemos os seus recursos naturais com a nossa ansiedade pelo conforto, pelo consumismo desenfreado. 
     Seríamos poupados se não fôssemos tão ignorantes em nosso comportamento com o meio em que vivemos. Mostra também que, se não previmos a tragédia, resultado da ocupação irregular permitida e até patrocinada pelos políticos que ocuparam o poder ao longo dos últimos 30 anos em Teresópolis, não fomos eficientes também no pós-tragédia: doações foram desviadas, os recursos federais roubados e mais da metade das pessoas que recebem hoje o aluguel social não perdeu casa alguma naquelas chuvas - águas que levaram também a dignidade dessa gente pobre de espírito, pessoas que se aproveitam, que mentem, reflexo dos políticos que vêm governando a cidade ao longo das ultimas décadas.
     É caso de polícia e vamos ainda falar muito disso. Mas, esquecendo um pouco a tragédia espiritual aproveitadores de plantão, vamos lembrar de outra tragédia que ocorreu em em Teresópolis. Foi há 32 anos, em 2 de dezembro de 1981. Era fim de tarde e, por volta 18h, quando o ônibus de 17h30min, da Viação Teresópolis, com destino a Guapimirim, chegou próximo ao Posto Garrafão, na Serra, este foi colhido por uma avalanche de lama, sendo precipitado no abismo. Outras barreiras atingiram outros 70 veículos e, no início da noite, quando as equipes de salvamento chegaram ao local, mais de vinte mortos seriam contabilizados. O “inferno na serra”, como foi dada a notícia pela imprensa local, sobrevive na memória dos jornais e de quem presenciou o primeiro grande acidente na estrada Rio-Teresópolis, inaugurada 22 anos antes, em 1.o de agosto de 1959.
     A cidade também sofreu com a tromba d’água. “Na maior enchente que já se abateu sobre Teresópolis, diversos muros caíram aumentando ainda mais a facilidade para que as águas entrassem nos jardins das residências e nas lojas. O prejuízo é enorme para os proprietários. Quase todas as ruas do centro da cidade foram atingidas, sofrendo mais as ruas Francisco Sá, Duque de Caxias, Carmela Dutra, Cotinguiba, Rui Barbosa, Feliciano Sodré, Lúcio Meira, Darcy Menezes, Nova Friburgo, Magé, Manoel Lebrão e o Parque Regadas. No Alto, ficaram inundadas as ruas Oliveira Botelho, Sloper, Melo Franco e Beira Rio e, no bairro São Pedro, a praça Getúlio Vargas e as ruas Fileuterpe e Pedro Struchi”, informou a Gazeta de Teresópolis em 4 de dezembro de 1981.

2 comentários:

  1. Lembro bem dessa enchente, a rua Sloper desapareceu. Eu tinha uma casa perto, na Hildegardo de Noronha. Tinha uma geladeira dos anos 40 que boiou, a garagem fica no subsolo e encheu até o primeiro andar, que foi parar na piscina do condomínio ao lado do meu, mais de 500 metros. A geladeira foi limpa e voltou a funcionar normalmente, pura verdade. A estrada ficou fechada por vários dias e a reforma levou mais de ano. Lembro também no trecho do Escalavrado, a rodovia sumiu totalmente levada pela avalanche e muitos anos ficou uma marca na montanha hoje novamente coberta pela mata. Paulo Kutwak

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  2. Em 1981 eu tinha apenas 14 anos de idade. Nós morávamos num apartamento na Rua Duque de Caxias. Durante a tromba d'água, ao olhar para o Fórum na Av. Lucio Meira, conseguíamos ver somente um pedacinho do topo do "orelhão" da Telerj. Meu saudoso pai, Carlos Alberto (proprietário da antiga Arte Madeiras na Rua Tenente Luiz Meirelles 1000) havia descido de manhã para o Rio de Janeiro a trabalho e supostamente deveria ter retornado até umas 17 horas. A noite chegou, com falta de energia. O dia amanheceu e nós ainda não tínhamos notícias do meu pai. Eu ainda tentei chegar ao CCAA no Parque Regadas, em meio a muita lama, para saber que a aula havia, obviamente, sido cancelada. Por volta das 10h30 da manhã meu pai chegou em casa, a pé, com lama dos pés à cabeça. Seu automóvel tinha ficado no Posto Garrafão impossibilitado de seguir viagem porque a estrada estava completamente destruída com mais de cinquenta barreiras contabilizadas por nós mesmos, visualmente, ao descer a serra muitos dias depois quando o tráfego de veículos finalmente tinha sido liberado. Meu pai era testemunha ocular de grande parte da tragédia. Uma Kombi-trailler havia incendiado no posto Garrafão e o casal agonizava sem socorro com queimaduras graves. Foi um milagre eles terem sobrevivido. Lembro que a mulher, conhecida nossa, teve que fazer muito enxerto de pele e ficou muitos dias internada. Em meio a todo este caos, conseguiram formar uma equipe que tentaria, durante a madrugada, chegar à cidade de Teresópolis para pedir por socorro. Subiram pela Estrada Velha do Garrafão. Meu pai contou que em alguns trechos era necessário amarar cordas e fazer uma corrente humana para resistir às fortes correntezas de água para passar mulheres, crianças e idosos. Finalmente, ao amanhecer, chegaram ao Soberbo. Meu pai atravessou a cidade caminhando pelo Alto até a Várzea, enquanto chorava ao ver tanta destruição por todo o trajeto. A cidade havia parado. Quando meu pai chegou em casa, todos nós choramos muito de emoção porque àquela altura já esperávamos uma notícia trágica. Meu pai havia sobrevivido ao "Inferno na Serra" nome que ele mesmo denominou em entrevista telefônica ao vivo para a Rádio Teresópolis AM.

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