UMA ESTRADA DE RODAGEM PARA PETRÓPOLIS
Nos anos 1930, era assim o caminho para Petrópolis - motivo de campanha pela recuperação da estrada |
O texto vale ser reproduzido, de preferência, da forma como foi escrito. Vale, principalmente, para dar memória dos teresopolitanos da época, preocupados com o desenvolvimento da cidade: H. Sloper, Arnaldo Guinlle, José Ortigão, Cincinato Braga, Armando Vieira, H. Humpstone, Neele e Carlos Guinlle figuram na lista de contribuintes. - “Doaram 6 contos, necessitando a campanha ainda de outros 9 contos de réis”, reporta Paracampo. Além dos contribuintes, o médico e jornalista dá notícia ainda da comissão encarregada pela execução dos serviços. José Joaquim de Araújo Regadas, Francisco Smolka, Helvecio Serpa, José Ortigão e o próprio Paracampo cuidavam de arrecadar o dinheiro junto ao empresariado e da “direcção technica” dos trabalhos.
A matéria mostra a responsabilidade que as pessoas daquela época tinham com a cidade onde moravam e tece severas críticas a quem não se aliava nas campanhas de interesses comuns e também aos governos estadual e federal. - “Não invocamos o auxílio da União e nem do Estado, para que venham consertar essa nossa estrada, porque, coitados, estão às portas da falência e da penhora!...”, observa Armando Paracampo, que dizia-se envergonhado de ter que esmolar junto aos ricos da cidade para uma obra que seria do benefício de todos. - “Infelizmente, é preciso suportar essa vergonha, porque é para benefício do Município, e para benefício de nós mesmos. E fosse somente essa a vergonha, essa a humilhação, por que passam os que estão angariando donativos e fundos para a conservação da estrada Teresópolis-Petropolis. Se não existissem também as indiretas, as gracinhas e até mesmo desaforos que somos obrigados a ouvir, aceitar e calar com paciência franciscana!...”, confessa, lembrando que é obrigação do cidadão mover-se, sacrificar-se pelo bem comum. - “Se nós mesmos nos não movermos e nos não decidimos a agir dessa maneira, para o bem comum, e para o nosso próprio bem, então é melhor que cada um arrume a trouxa, diga adeus e vá-se embora, a procura de outro lugar, onde melhor enterrar a sua fortuna, a sua atividade e o seu bem estar”, disse em tom de ameaça.
Caminho carroçável aberto em 1898 pelo Coronel Claussen e reconstruído em 1920 pelos prefeitos de Teresópolis e de Petrópolis para a visita do Rei Alberto, da Bélgica, uma década depois, a estrada Teresópolis-Petrópolis estava em péssimo estado de conservação. E, cansados de apelar aos governos do estado e da capital e, à própria prefeitura, os teresopolitanos da época se cotizaram e resolveram fazer uma campanha pela sua recuperação, que representaria àquela altura prosperidade para o município. À frente dessa campanha homérica estavam os Guinlle Arnaldo e Carlos, Serpa, Sloper, Vieira e outros. Os mesmos que, em fevereiro de 1948, criaram a Sociedade dos Amigos de Teresópolis. Essa entidade - isso merece ser contado com detalhes - foi quem iniciou a abertura da estrada Teresópolis-Rio, sendo a empreitada encampada pelo governo federal anos depois, concluindo-se o serviço em 1959.
O texto rememora uma época. Traz, ainda, conceitos de cidadania, de uma forma de viver em sociedade que não se pratica mais. Está desatualizado na grafia. Está desatualizado, também, contextualizando-o à atualidade: hoje, as pessoas praticamente só se associam para fins de lazer e, até da obrigação de fazer manutenção da calçada de sua propriedade o “cidadão” se esquiva.
Um documento da história de Teresópolis, a publicação desse texto de meados do século passado serve para reavivar nossa memória. E, quem sabe, para nos provocar, incitando-nos a repensar nosso papel na formação do futuro do município.
ESTRADA DE RODAGEM TERESÓPOLIS-PETRÓPOLIS
Feita, ás pressas, para fim de turismo, a estrada Therezopolis-Petropolis transformou-se numa verdadeira estrada commercial.
Ninguem desconhece os defeitos, as difficuldades as surprezas que essa estrada encessa. E todos podem bem avaliar como essas difficuldades augmentam quando se abandona a conserva do seu leito, sobretudo depois da estação chuvosa.
E' uma estrada interessante e de bellissimo trajecto. Mas é uma estrada impropria para o transito de mercadorias e até mesmo para passeio. E' quasi uma estrada indesejavel.
Mas... é uma estrada, e é o unico recurso que possuimos para nos mantermos em contacto com Petropolis, e por conseguinte, com o importante centro commercial que é o Rio de Janeiro.
Por ella transitam diaramente caminhões e caminhões, e caminhões exportando e importando mercadorias. Só de Therezopolis, trafegam para o Rio, 15 caminhões, ao que estamos informados. Esses caminhões vão num dia e voltam no outro. Fazem seis viagens por semana, cada um, ou sejam, 90 viagens por semana ou 4.680 por anno, ao todo.
Calculando uma carca media, para cada caminhão e para cada viagem, de 2.000 kilos, tomos que, por anno, são transportados e transitam pela estrada Therezopolis-Petropolis, apenasmente, 9.360.000 kilos de mercadorias, ou 10.000 toneladas a bem dizer.
E si quizermos dar a cada kilo de mercadoria, o valor médio, ou mesmo inferior de 3$000, teremos qe por essa referida estrada, passa por anno, uma riqueza aproximada de 28.000:000$000 - Trinta mil contos!
Essa estrada, portanto, embora de traçado pouco comodo e de accesso difficil, é uma estrada de importancia vital, para Therezopolis. Mesmo ruim como é.
Pois bem, senhores!...
Essa estrada está, ou melhor, estava a ponto de ficar com o transito interrompido, tal o estado deploravel em que se acha o seu leito, pela destruição systematica e impiedosa das aguas; pela absoluta falta de conservação e pelo não pequeno transito de caminhões.
Estava a pique de ser fechada ao transito, e não, poucas vezes, esteve assim, embora pelo espaço de horas ou dias.
Um grupo de amigos de Therezopois, decidiu, nestes ultimos dias, reconstruir a bem dizer alguns trechos dessa estrada e collocal-a em condições de bem servir o público, o commercio e principalmente a lavoura de Therezopolis, pois que é a lavoura que maior quantidade de mercadorias e cargas fornece para os caminhões.
Esse grupo de amigos de Therezopolis, é claro, teve e tem que recorrer a outros bons amigos de Therezopolis afim de conseguir fundos necessarios para realizarem os indispensaveis concertos e reparos da referida estrada.
Na lista de subscriptores, que adeante vae publicada, os leitores poderão ver os nomes dos que verdadeiramente amam Therezopolis.
Essa lista, porem, e esse pedido que é feito ás pessoas de boa vontade, como o único recurso que resta a Therezopolis para conservar a sua mais importante estrada de rodagem, representa uma vergonha e uma humilhação!...
Não invocamos o auxilio da União e nem do Estado, para que venham concertar essa nossa estrada, porque, coitados, estão ás portas da falencia e da penhora!... O funding que é uma moratoria é o primeiro passo para a fallencia, e elle acaba de ser conseguido pela 3ª vez.
Invocamos, isso sim, o auxilio da Prefeitura.
Esse deve vir, e com certeza virá.
A Prefeitura auxilia, actualmente esses serviços de reparos, com um caminhão, um chauffeur e algumas ferramentas. Achamos pequeno esse auxilio, tanto assim, que infelizmente, somos obrigados a estar esmolando auxilio de particulares, importunando-os, na verdade, com insistentes pedidos de dinheiro.
Mas, si os poderes publicos estaduaes cruzam os braços deantes desse desastre do Municipio?
Infelizmente, meu caro leitor, é preciso suportar essa vergonha, porque é para beneficio do Municipio, e para beneficio de nós mesmos.
E fosse somente essa a vergonha, essa a humilhação, por que passam os que estão angariando donativos e fundos para a conservação da estrada Therezopolis-Petropolis. Si não existissem tambem as indirectas, as gracinhas e até mesmo desafôros que somos obrigados a ouvir, acceitar e calar com paciencia franciscana!
Na verdade, ninguem nos obriga a tornarmos essa attitude.
Mas, senhores!...
Si nós mesmos nos não movermos e nos não decidimos a agir dessa maneira, para o bem commum, e para o nosso proprio bem, então é melhor que cada um arrume a trouxa, diga adeus e vá-se embora, a procura de outro logar, onde melhor enterrar a sua fortuna, a sua actividade e o seu bem estar.
Para se recollocar a estrada Therezopolis-Petropolis em bôas condições de transito, serão necessarios de 14 a 15 contos. Já estão subscriptos perto de 6 contos. São precisos, portanto, ainda uns 9 contos, pelos menos.
Será que o publico de Therezopolis, os proprietarios, commerciantes e pessoas que têm interesse nesta cidade deixem de concorrer para esta utilissima, indispensavel e inadiavel reconstrucção?
Queremos crer que não.”