Veado, quando a emenda fica pior que o soneto
Cine Eden e Grande Hotel, na antiga Siqueira Campos (ex-Veado, hoje Guaçuí) |
Fé, Amor e Esperança. Era isso ou seriam três marias,
das Dores, da Graça ou José...
Coisas do interior do Brasil, muito comum no Nordeste e nos cafundós de Minas Gerais.
Mas, é no Espírito Santo que encontrei uma das histórias mais interessantes por causa de um nome. E não é nome de gente. É que denominaram Veado um distrito emancipado de Alegre. Pior, depois que veado passou a significar gay, nos anos 1930, resolveram trocar o nome da cidade, homenageando o másculo tenente Siqueira Campos, líder da marcha dos 18 do Forte de Copacabana, nome que também não foi bem aceito pela família do militar quando passaram a chamar Siqueira Campos de ex-Veado. Hoje, ex-Veado e ex-Siqueira Campos chama-se Guaçuí e, por lá, sabe-se, não é bom brincar com o assunto se estiver desarmado.
Quando ouvi o caso tempos atrás, decidi conferir a história, afinal sempre soube que não existe ex-veado. Mas vi que tem sim e, buscando endender o caso, encontrei um texto do professor Luiz Antonio Simas que merece reprodução. Então, com o tempo curto para tantas outras coisas, posto aqui a bem escrita história, que está no blog hisbrasil.blogspot.com.br
UM NOME PROBLEMÁTICO
No início do século XIX, homens vindos de Minas Gerais, liderados pelo Capitão-Mor Manoel José Esteves de Lima, fundaram um povoado na região serrana do Espírito Santo. O povoado chamou-se, desde 1866, São Miguel do Veado, em homenagem ao santo e em referência ao rio Veado, que passa pertinho da localidade. São Miguel do Veado foi distrito de Cachoeiro de Itapemirim e de Alegre, até emancipar-se, em 25 de Dezembro de 1928.
Não se sabe quem foi o autor da ideia, mas o fato é que o município emancipado recebeu o nome, puro e simples, de Veado. Em pouco tempo, e em virtude da maldade e da malícia dos habitantes das cidades vizinhas, a simpática denominação passou a desagradar os habitantes do novo município.
Considerou-se , então, prudente trocar o nome. Veado passou a se chamar Siqueira Campos, em homenagem ao tenente rebelde e líder da marcha dos 18 do forte de Copacabana. Como ainda não havia sido criado, naquele início dos anos 30, o Código de Endereçamento Postal, o valoroso serviço do Correio, para evitar extravio, identificava a cidade como Siqueira Campos, ex-Veado.
Acontece que Siqueira Campos, que tinha fama de machão, era o autor de uma frase célebre sobre os políticos da velha República : - Todo político é corno, veado ou ladrão. Imaginem então a revolta dos fãs de Siqueira Campos, morto precocemente, quando souberam do epíteto que o herói do tenentismo tinha adquirido. Tanto atazanaram, com abaixo-assinado, passeata e o escambau, que o nome da cidade mudou novamente. A solução encontrada, admitamos,foi porreta; o município passou a se chamar Guaçuí, que em tupi-guarani significa...veado!
Quem não gostou nada dessa situação foi a concessionária de eletricidade do local, que atendia também a cidade de Alegre e teve que enfrentar tremenda burocracia para trocar de nome. Diante das ameaças de uma população indignada, e cansada de ser sacaneada pelos habitantes de outros municípios, a empresa capitulou, enfrentou a burocracia e abandonou o sensacional nome antigo - Companhia de Eletricidade Alegre-Veado.