Heleno Nunes, o patrono da Confederação Brasileira de Futebol
Existe uma lei
municipal que proíbe a troca de nomes de ruas. E embora a sanha política de
alguns vereadores permita que se roube parte da homenagem concedida, a lei vem
se cumprindo. Gonçalo de Castro, coitado, perdeu uma perna e sua rua divide
homenagem com o Monsenhor Nivaldo. Aleijado também ficou o Major Carvalho, com
um braço da sua rua homenageando agora o pastor Joaquim do Couto. Até o irmão
do Presidente Bernardes, o prefeito Olegário, não está inteiro mais. Sua rua,
que ligava a Reta ao bairro dos Pinheiros, agora começa na avenida Delfim
Moreira. E roubaram-lhe a homenagem justamente para agradar familiares de quem
mais era contra essas desomenagens: o radialista Délcio Monteiro. Bastou que
ele morresse para colocarem em seu túmulo fruto de roubo.
Nada contra os
três e sim a forma como foram homenageados. O monsenhor e o pastor merecem
louvores e o Olegário fez por ser lembrado. Mas, quem não se lembra do vereador
que deu o nome do desconhecido pai para uma rua de Agriões? Aliás, como se
homenageia nulidades nesta cidade. Rui Barbosa e Délcio Monteiro devem estar se
revirando no caixão...
Agora, a mesma
Câmara que rouba homenagens, esquartejando personalidades da nossa história,
saiu em defesa do nosso Heleno Nunes. A gritaria ganhou também as redes sociais
e o Facebook quer o busto do Almirante de volta à Granja Comary. E exige ainda
que a sede da concentração da Seleção Brasileira de Futebol volte a se chamar
“Centro de Treinamento Heleno Nunes”.
Não sou de
concordar com vereadores, e não será com essa Câmara que gostaria de fazer
coro. Mas, os vereadores tem razão de estarem descontentes. Onde já se viu
desomenagear alguém? E logo o Heleno Nunes. Será que o pessoal da CBF não sabe
da importância do Almirante? Será que eles desconhecem a história do futebol e
do esporte brasileiro? E a injustiça com o homenageado acontece justamente no
mês de 30.o aniversário de sua morte, e às vésperas do seu centenário de
nascimento. Quanta insensibilidade...
A falta de
respeito da Confederação Brasileira de Futebol com a família do presidente
Heleno ultrapassa os limites do esporte. O Almirante era grande amigo da nossa
cidade e a concentração da Seleção Brasileira é bem tombado pelo município.
Sendo assim, a mudança deveria ser discutida pelo Conselho de Cultura, e pela
Secretaria de Cultura, que jamais permitiriam o crime contra a memória do
exemplar cidadão teresopolitano.
Heleno Nunes é
considerado o herói da Estrada Direta. Ele usou seu prestígio pessoal para que
a obra fosse feita e, não fosse ele, a cidade amargaria muitos outros anos para
ver sua ligação direta com o Rio de Janeiro, coisa que Petrópolis e Nova
Friburgo já tinham, e onde o progresso era mais percebido.
Segundo sua filha
Regina, Heleno Nunes era um homem de visão e dentro dessa visão ele não se
satisfazia em atuar em apenas uma área. “Ele era Oficial da Marinha e dentro
dessa atribuição começou a desenvolver conjuntamente uma posição política e sem
abrir mão das demais ações, desenvolveu aptidão para a organização esportiva,
tudo dentro da marinha e fazendo tudo ao mesmo tempo. Os primeiros times de
futebol com marinheiros foram organizados por ele, inclusive participando de
campeonatos e tudo mais. Ainda na Guerra, onde permaneceu em navios, lá mesmo
organizava os marinheiros para a prática esportiva e organizava pequenas
competições. Sem falar na clara veia política que sempre esteve presente. Tudo
isso com muita dedicação em cada uma das áreas que atuava. Mas foi como
secretário do Ministro de Viação e Obras Públicas que ele conseguiu uma de suas
maiores conquistas, o compromisso da estrada direta para Teresópolis”.
Em entrevista
recente, a esposa Maria Luiza Nunes lembrou que o grande homem, com quem
casou-se em 1945, nunca se satisfez em vir para Teresópolis apenas como
veranista, e nas suas viagens para cá, desde muito jovem, pensava enquanto o
trem subia a serra, nas dificuldades que essa viagem representava, e dizia que
seria uma das suas lutas se tivesse condições de mudar essa realidade. “O tempo
passou. E, como secretário do ministro de Transportes ele trabalhou por esse
compromisso que fez com ele mesmo, transformando o sonho na sua questão maior.
Hoje, com essa ampliação da estrada direta, que recebeu mais uma pista e está
sendo remodelada, vejo uma confluência geral dos maiores projetos dele para o
município de Teresópolis. A nova concentração da seleção brasileira, outro
grande sonho dele, sendo tão importante para a
cidade e o país. Foi muito bom o Heleno não ter desistido dos seus
sonhos”.
Queremos o nome
de Heleno Nunes de novo o prédio da Concentração da Seleção Brasileira de
Futebol, na Granja Comary. A causa é justa, e estamos nela.
HELENO DE BARROS
NUNES, militar, esportista e político, nascido em Vila Isabel, no Rio de
Janeiro, em 3 de julho de 1915. Filho do almirante Adalberto Nunes, o
organizador da Seção de Esportes da Marinha, e de Maria Cândida de Barros
Nunes, do lar. Em 1928, ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde
realizou o Ensino Fundamental e Médio. Desde esta época já praticava esportes.
Em 1930, foi jogador de basquete do Vila Isabel Futebol Clube. Em 1932,
ingressou na Escola Naval, onde foi atleta nas modalidades de natação, water
polo e basquete. Neste período, competiu por diversos clubes da cidade do Rio
de Janeiro, entre eles, o Tijuca Tênis Clube, natação e Fluminense Futebol
Clube, basquete. Em 1938, formou-se Oficial da Marinha de Guerra do Brasil e
logo em seguida, assumiu a coordenação esportiva da Marinha. Em 1942, durante a
Segunda Guerra Mundial, foi classificado na Força Naval do Nordeste, e serviu
no navio oficina “Belmonte”. Era oficial chefe de reparos e o navio patrulhava
as costas pernambucanas. Com o nome de Portela do Jaboatão, a equipe de futebol
do navio, foi campeã da Divisão de Pernambuco. Em 1944, foi imediato da Corveta
“Jaceguai”, já com um total de 54 mil milhas de comboio naval, desmobilizado em
1945 das operações de guerra. Pelos serviços prestados durante a Segunda Guerra
Mundial, tomou-se merecedor da Medalha Naval do Mérito de Guerra de Serviços
Relevantes e da Medalha Naval de Serviços de Guerra, com duas estrelas.
Em 1945, no dia 8
de setembro, Heleno casou-se com Maria Luiza Vasquez Puentes. Em 1946, serviu
na Força de Contra Torpedeiros e fez o Curso Superior de Guerra Naval. Foi
ainda chefe de gabinete do Diretor de Engenharia Naval e Secretário de
Desenvolvimento Industrial.
Era Presidente da
Confederação Nacional dos Pescadores, quando ingressou na política, por
intermédio do Deputado Amaral Peixoto, sendo eleito Deputado Estadual, em 1954,
pelo PSD. Pouco mais tarde, foi convidado para a função de Chefe de Gabinete do
então Ministro da Viação, Almirante Lúcio Meira, seu amigo particular. Nesta
etapa de sua vida, teve início a grande “batalha” pelas obras de construção da
estrada Rio-Teresópolis, que já haviam começado, porém encontravam-se
praticamente paralisadas. Lutando muito junto ao DNER, para aceleramento destas
obras, tudo começou a correr satisfatoriamente, até a inauguração da estrada,
em 1º de agosto de 1959, pelo então Presidente Juscelino Kubitschek. Ainda como
Deputado, foi Secretário de Energia Elétrica do antigo Estado do Rio de
Janeiro. Criador e primeiro presidente das Centrais Elétricas Fluminense
(CELF). Trabalhou pela construção da linha de transmissão de torres metálicas
para trazer energia elétrica em melhores condições técnicas a Teresópolis, onde
reformou a rede elétrica da cidade, e instalou a subestação Fonte Santa;
estendendo-se, também, a eletrificação a áreas rurais do Estado. Como
Secretário de Energia realizou ainda obras de iluminação à Vapor de Mercúrio na
cidade de Teresópolis e em Niterói, na Praia de Icaraí e na Alameda São Boa
Ventura.
Afastou-se da
política em 1966 e, em 1967, exerceu o cargo de Diretor de Futebol da extinta
Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Exerceu ainda, os cargos de
Presidente da Federação Carioca de Boxe, diretor de futebol do Bonsucesso F.C.
em 1969, e Diretor de Futebol do Vasco da Gama em 1970, depois de ter
conquistado o Campeonato Carioca. Em 1973, foi agraciado com a Medalha do
Mérito de Tamandaré. Em 10 de Janeiro de 1975, Heleno de Barros Nunes foi
eleito, por unanimidade de votantes, ao cargo de Presidente da CBD, hoje CBF.
Em dois mandatos sucessivos na presidência da CBD, destacou-se por importantes
realizações, entre as quais a chamada interiorização do futebol, que chegou a
reunir, aproximadamente, 80 clubes, de todas as capitais e de muitas cidades do
interior dos estados, cuja motivação e entusiasmo nacional que provocou, levou
o clube de futebol Guarany, de Campinas, SP, a sagrar-se campeão brasileiro, em
1978.
Legou, ainda, em
sua administração, o Centro de Treinamento, em Teresópolis, RJ, através da
compra, pela entidade, de ampla e nobre área situada na Granja Comary e do planejamento
da obra que havia idealizado, que, construída em gestão posterior, foi
denominada, com justiça, CENTRO DE TREINAMENTO HELENO NUNES (CETREN). Nesta
mesma época, como eminente líder político que era, foi convidado pelo Governo
Federal para presidir o Diretório Fluminense da ARENA. Heleno Nunes dedicou-se
35 anos à carreira militar e por 15 anos dedicou-se a política partidária,
quando, no exercício de diversos cargos públicos, realizou inúmeras obras, como
pavimentação de estradas, avenidas, melhoramentos e dragagem de rios, evitando
enchentes e possibilitando aos agricultores melhores terrenos para o cultivo.
Colaborou ainda, na construção de hospitais, creches, escolas, igrejas e
particularmente, campos de futebol. Mais tarde, liberado dos cargos políticos,
Heleno Nunes exerceu funções na iniciativa privada, como membro do Conselho
Consultivo das Casas Sendas Com. e Ind. S.A. e membro da diretoria da Marka
S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Faleceu, em 3 de março de
1984, em Teresópolis, de um edema pulmonar, quando exercia o cargo de Diretor
da Companhia de Eletricidade de Nova Friburgo. Deixou sua esposa, Maria Luiza
Puentes Nunes, duas filhas, Luiza Helena Nunes Ermel, casada com o Capitão de
Fragata José Fernando Ermel e Regina Helena Nunes da Rocha, casada com o
Coronel do Exército Paulo Renato Ferreira da Rocha, cinco netos e um número
incalculável de amigos, das diversas camadas sociais, especialmente, pessoas
humildes, particularmente, da cidade de Teresópolis, as quais acompanhou e
amparou, durante toda sua vida.