Quem visita o Mirante sofre um impacto: primeiramente, pela beleza da obra que não se supõe tão grandiosa; segundo, pela depredação de vândalos que não respeitam o patrimônio histórico... A valorização do Mirante da Granja Guarani, conduzindo-o de novo às raízes de seu trabalho, vem, por certo, na direção da cultura, da arte, e do transbordamento histórico”. Texto de Osiris Rahal, transcrito do livro Reminicências, editado em 1987
Denúncia na imprensa por vários anos: Há muito tempo o mirante está em ruínas |
"Situada entre os caminhos sinuosos da Granja Guarani”, onde se desfruta de um amplo e belo panorama da Serra dos Órgãos, da CBF e do bairro do Alto, a construção neocolonial ainda guarda resquícios da beleza que provocou visitantes do mundo inteiro e de veranistas, encantados com o seu estilo arquitetônico de influências coloniais mexicanas e mouriscas. Também conhecido como “Quiosque das Lendas”, o bem é composto por dois corpos interligados por um avarandado coberto, encimando uma grande elevação que forma uma espécie de platô, o mirante tem cobertura em telha-canal com coruchéus, que remetem aos caramanchões por sua forma circular, daí ser também conhecido como “carra-manchão” da Granja Guarani.
Centro das admirações dos que se preocupam com a memória, a interessante construção emoldurada por colunas tosca-nas de capitel simples e arcos de alvenaria revestidos com azulejos portugueses é obra do engenheiro teresopolitano Carlos Nioac de Souza. Produzidos em Lisboa no ano de 1929, os azulejos que revestem o mirante foram pintados pelo renomado artista Jorge Colaço (1864-1942) e contam quatro lendas indígenas: O Dilúvio”, “O Anhangá e o Caçador”, “A moça que saiu para procurar marido” e “Como apareceu a noite”. O autor dos traços fortes, em azul sobre branco, foi um dos maiores azulejistas de Portugal no princípio do século XX, com trabalhos expostos desde o Palácio de Windsor na Inglaterra, até o Centre William Reppard na Suíça, passando por países como Cuba, Argentina, Brasil e Portugal.
Tombado em janeiro de 1988 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, que o catalogou como “uma pequena jóia neocolonial”, o Mirante da Granja Guarani é “protegido” também pela Lei Orgânica Municipal, de 1990. Mas, embora tenha grande importância histórica para o município, além de seu enorme apelo turístico e cultural, o prédio representa hoje apenas um monumento ao descaso das autoridades que, ao longo dos últimos trinta anos, deixaram que ele chegasse ao deplorável estado em que se encontra.