sábado, 15 de fevereiro de 2014


   O hotel de Madame Le Magourou e a Teresópolis nos anos 1930

O hotel Le Magourou num de seus melhores registros. A imagem revela a imponência da
av. Delfim Moreira, antes rua Provincial, nos anos 1930
     Inaugurado em 24 de dezembro de 1922, na avenida Delfim Moreira, 1190, o novo prédio do hotel Le Magourou foi ao chão em setembro de 1983, depois de longo tempo de abandono. A imponente construção, cartão postal que encantava os visitantes de Teresópolis na primeira metade do século passado, chegou a ser utilizada como posto avançado de atendimento do Hospital das Clínicas e, extinto, deu lugar à moderna loja da Casa HG Materiais de Construção.
     Point de encontros políticos e reuniões importantes - no Magourou, nos anos 20 e 30, ocorriam as reuniões políticas do grupo de Olegário Bernardes - o hotel estava entre os mais importantes da época, afluindo para ele e o Várzea, na Várzea e para o Hygino e Rizzi, no Alto, os ricos da época, inclusive autoridades em visita à Teresópolis. Hóspedes mais modestos, ou que não se importavam com o glamour e o luxo, frequentavam as pensões, também muito bem instaladas. “Sempre guardei boas lembranças do Magourou. Se me lembro, e como! das tertúlias e dos saraus que ali se realizavam: uns recitando; outros cantando; outros ao piano situado na sala de estar, nos deleitando com músicas sentimentais! Como eram agradáveis esses momentos! E como eram atenciosos seus empregados: D. Carlinda, a cozinheira; Juvenal, ajudante de cozinha; Alberto, um dos garçons; os porteiros Carlos e Alceu; América e Mathilde, arrumadeiras e Manoel Pereira da Silva, atendente de limpeza”, relata o escritor e poeta Amadeu Laginestra, em seu livro Evocações, editado em 1975.
     O Hotel Le Magourou era de Josephina Le Magourou, dona da “Pensão de Madame Le Magourou”, que funcionou numa casa quase em frente, na chacara de Alfredo Balthar, onde surgiu a Casa de Saúde NS de Fátima, antes de mudar-se para o antigo hotel Paiva e Carneiro, casa baixa, chegada à rua, antiga delegacia, e Câmara Municipal a partir de 1899. A “casa baixa”, no número 1240 da avenida Delfim Moreira, que chegou a ter o nome de hotel Le Magourou antes do prédio novo ficar pronto, serviu de casa de apoio aos funcionários do hotel. Também foi derrubada, um pouco antes, e em seu terreno foram levantados dois prédios de apartamentos, guardando na ponte em frente a data 1926, marcando o período áureo daquele trecho então bucólico.
Madame Le Magourou morreu logo depois da inauguração de seu magnífico empreendimento, em 22 de julho de 1927, ficando o hotel sob a responsabilidade do marido, Jules Le Magourou, já com 76 anos de idade. Irmã de Edmond Black, comerciante no Rio de Janeiro, era mãe de Alice Walsh, casada com Francis Walsh, funcionário da Light; Maria Santa Cruz, casada com o capitão-tenente Santa Cruz; Laura Magourou e Margarida Magourou.
     Segundo o jornal O THEREZOPOLIS, Josephina Le Magourou “desfrutava em todas as camadas sociais de Therezopolis da mais viva simpatia e estima, pelo seu trato lhano e pelos seus apreciados dotes de coração, sucumbindo em avançada idade, mas, apesar disso ainda com espírito vivo e inteligente”. Devota de carinho especial às coisas da cidade, morava há muitos anos em Teresópolis, tendo assistido a evolução da “vilhota” que conhecera em fins do século anterior, representando sua perda um “claro impreenchível para os teresopolitanos”. Seu enterramento ocorreu no cemitério municipal, com grande acompanhamento, de pessoas da cidade e outras do Rio de Janeiro, “vendo-se sobre seu féretro muitas coroas e ramos de flores”.
     Com a morte de Jules, o Hotel Le Magourou mudou de mãos, passando à propriedade de Laura e Emille Ducumun. O hotel entraria em declínio no final dos anos 50, quando Ducumun cedeu o seu anexo aos médicos que abriram a Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima. “O anexo do hotel Le Magourou, com cerca de 20 quartos e situado dentro de um grande terreno arborizado, vivia constantemente vazio. Um verdadeiro desperdício, para mim, principalmente, que sonhava poder aproveitá-lo mais nobremente... Os queridos amigos, Laura e Emille, entenderam, então, que era hora de quitar sua dívida de gratidão para com aqueles que os atenderam nas horas difíceis por que passaram e ofereceram-me o prédio do anexo do Hotel em condições vantajosas para que pudéssemos adaptá-lo para uma Casa de Saúde.   Imediatamente, convidamos mais alguns colegas e formamos uma equipe de dez profissionais com as especialidades mais solicitadas”, relata sobre a ocupação do Anexo do Magourou o médico Arthur Dalmasso, no “Livro de Ocaian”.

2 comentários:

  1. Olá.. gostei muito de ler sua matéria, minha avó trabalhou muitos anos neste hotel. Ela se chamava Stella.... Conheceu meu avô neste hotel, ... mas não sabemos nada sobre ele...

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  2. Excelente artigo. Tirou todas as minhas dúvidas.

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