sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


O novo templo da matriz de Santa Teresa, assim que ficou pronto, nos anos 1940

  "Claudina não era nenhuma santa"


     É comum ouvirmos, e até já se escreveu em livros, que a antiga capela de Santa Teresa chamava-se "capela de Santa Claudina". Derrubada em 1927 para a conclusão das obras de construção do atual templo, a igrejinha da Várzea teria o orago, até então, à santa católica Claudia Thévenet (1774-1837).

     Da mesma forma que não resistiu à pesquisa histórica a lenda das "constantes visitas da Imperatriz Teresa Cristina à Teresópolis", a nomeação de Santa Claudina à antiga capela da Várzea também não passa de um mito. A igreja sempre teve invocação à Santa Teresa e os documentos, embora raros, bem provam isso.

     Dez anos depois da morte de George March e, retalhadas suas terras, ao mesmo tempo em que, em 1855, tornava-se a capela de Santo Antonio, no bairro do Alto, a matriz da freguesia, era construída na Várzea, a capela de Santa Teresa. Mas, enquanto a já existente capela de Santo Antônio passava a ser responsável pelos ofícios católicos da emergente freguesia de Therezopolis, a da Várzea, apesar de atender um bairro também com possibilidade de emergir-se, subordinava-se à do Alto onde, à época, ficavam as terras mais valorizadas do lugar.

Santa Claudina, beatificada em
1991 e canonizada em 1993
     E é, vamos ser sinceros, na questão das terras que residem os interesses e a história das nossas duas capelas primitivas.

     Extinta a Fazenda March e dividida sua propriedade, as glebas maiores ficavam com sedes no Alto e na Várzea. Área mais desenvolvida, já sede da grande Fazenda dos Órgãos, as melhores terras do Alto, atendidas pela capela de Santo Antônio, foram adquiridas por Antonio Fernandes Coelho, enquanto as terras da Várzea - e também de Araras, Vidigueiras, Meudon e Ermitage - passaram ao Comendador Polycarpo Magalhães Alvares de Azevedo. 

     Empreendedor, Coelho tratou logo de buscar valorizar mais ainda sua propriedade. Juntou-se a Antônio Feliciano da Trindade na empresa Fernandes Coelho & Cia. e tratou de loteá-la. Arruou o bairro e até doou ao Imperador Pedro II uma quadra, onde queria ver construído um castelo dedicado à Imperatriz Teresa Cristina. Num quarteirão da avenida Bragantina ficariam as ruas "da Imperatriz", "Dom Pedro II" e "rua Imperial".

     E a Várzea? Diante de tanta expectativa de desenvolvimento para o bairro do Alto, as terras do Comendador Polycarpo tinham pouco valor. Tratou então o proprietário de "dotá-las" de uma capela, também promovendo seu arruamento e outras benfeitorias. Policarpo fez mais: doou à igreja a capela que construiu e mais 116 mil metros quadrados de terra em torno dela, esperando que a capela aos cuidados da paróquia promovesse o progresso da localidade. Nessa escritura de doação aliás, é que se define bem o nome da igreja. O documento, lavrado em Magé no dia 17 de dezembro de 1859, além de trazer o nome de Santa Teresa como padroeira da capela, cita ainda os objetos pertencentes ao patrimônio existente, entre eles, quadro à óleo e imagens da padroeira. E a padroeira, em 1859, já era Teresa de Ávila.

     Mas, e Santa Claudina?

     Doar cinco alqueires de terra no centro da Várzea já daria ares de santo a qualquer um, até mesmo que uma segunda intenção parecesse haver por trás do gesto. Mas, é por conta da capela que construiu que Policarpo viu-se marido de uma santa: sua esposa, devota ao catolicismo, chamava-se Claudina. E, embora a história não tenha deixado registros de outras generosidades da importante dona, a mulher locupletou-se no gesto altruístico do marido. - "Capela de dona Claudina, logo Capela de Santa Claudina", admite o Monsenhor Antônio Carlos Motta do Carmo, pároco da Matriz de Santa Teresa.