domingo, 15 de dezembro de 2013

Tempo de enchente em Teresópolis - as chuvas de novembro de 1978

A Reta, dos tempos das "grandes enchentes" dos anos 1980. Era ainda pior antes da obra do "Corte"
     Chegou o tempo das chuvas. E, de agora até abril, não se tem sossego mais. Quem vive nas beiras dos rios está em alerta para as águas que avançam pelas margens ocupadas. E, quem construiu ou mora de aluguel nos morros também está em perigo: um deslizamento de blocos de terra ou de pedra pode ocorrer a qualquer momento e atingir barracos ou sólidas construções de alvenaria.

     É o período, também, que a Região Serrana do Rio de Janeiro mais aparece na grande mídia. Toda semana, nos próximos quatro meses, vão passar por aqui os carros de reportagens das emissoras de tevê aberta, e dos jornais, e de outras mídias de grande alcance, até as internacionais. Mais uma vez, Teresópolis vai ficar famosa pelos seus morros ocupados irregularmente, pela desordem urbana, e as construções dentro dos rios vão tornar-se a referência da cidade que era para ser divulgada como a terra do Dedo de Deus, da sede da CBF, e dos cumes mais cobiçados pelos montanhistas.

     Isso remete a uma reflexão: precisamos entender melhor o nosso ambiente e encontrar um meio de evitar o vilipêndio da nossa imagem, tão sofrida nesses tempos de apreensão.

     Não seríamos vítimas de trombas d’água e inundações se agredíssemos menos o planeta, se não esgotássemos os seus recursos naturais com a nossa ansiedade pelo conforto e pelo consumismo desenfreado. Seríamos poupados se não fôssemos tão ignorantes em nosso comportamento com o meio em que vivemos e se tivéssemos, desde as primeiras agressões que a cidade sofreu, tomado as devidas providências contra os políticos inconsequentes que nos deram esse nosso presente.

     Poucos se dão conta. Mas, praticamente, todas as favelas de Teresópolis foram apadrinhadas por prefeitos, vereadores e deputados. Quem patrocinou as invasões na Granja Guarani nos anos 1950? Quem liberou a ocupação da parte alta do Rosário e do Perpétuo a partir dos anos 1990? Quem permitiu que um terreno da prefeitura na rua Mato Grosso virasse uma favela, criando nova área de risco e desvalorizando os imóveis próximos? E o Serrote, Pimentel, Vale da Revolta, Cambucá... Terreno do INSS, a Quinta Lebrão foi moeda política de deputados por longo tempo, o mesmo ocorrendo no bairro Castelinho. E a favelização que avança sobre o interior do município? Onde estavam os fiscais da prefeitura, onde estavam os mecanismos de fiscalização do judiciário, onde estava a sociedade organizada que viu a cidade empobrecendo sem se mobilizar?

     As chuvas fortes em Teresópolis ocorrem mais entre dezembro e abril, mas tivemos anos em que as enchentes anteciparam-se, atingindo a cidade já um mês antes. E uma delas aconteceu em novembro de 1978, provocando grandes prejuizos. “Petrópolis e Teresópolis arrasadas pelo temporal”, noticiou O DIA, em 25 de novembro daquele ano. As chuvas em Teresópolis começaram às 2h da madrugada do dia 23 e, no dia seguinte, o quadro era de desolação. Até um prédio, de quatro andares, na rua Fileuterpe, desabou. Considerada uma tragédia, marcando a cidade como área de risco, a ocorrência contabilizou 6 mortos e dezenas de feridos. Três anos depois, em abril de 1981, desabaria a serra no Garrafão, acidente seguido de vários outros, nos anos seguintes, na mesma estrada e nesse período critico do verão.

     Em 1983, aconteceu uma das maiores enchentes de Teresópolis, seguida de grande destruição, com quedas de barreiras, afundamento de ruas e rompimento de galerias, superando a recente tragédia de 1978. Acostumados a enchentes na Reta com água a 1m20cm, os comerciantes viram água a até 2m20cm de altura, cobrindo as carrocerias dos caminhões estacionados no canteiro central das avenidas Feliciano Sodré e Lúcio Meira. Carros passavam boiando pela Várzea, enchente que durou de 4h da tarde até as 6h da manhã do dia seguinte. 

     Muitas outras enchentes aconteceram antes de novembro de 1978. E, depois da "grande enchente" de 1983 também tivemos outras chuvas fortes, como a de 2002, por exemplo, quando duas barreiras deslizaram no Perpétuo, matando quatorze pessoas. Sem contar a tragédia de 2011, com mais de 400 mortos, e que já vai ficando na memória das pessoas como apenas mais uma entre tantas.

     Maiores ou menores, combinação da fúria da natureza com a insensatez do homem, as enchentes e as barreiras, há mais de uma geração tão conhecidas de todos nós, podem até não ser erradicadas, mas terão seus efeitos minimizados se houver uma política mais coerente de convivência do homem com o meio ambiente.

     Precisamos aprender com a história. Os políticos da década de 1950 nada fizeram para educar o povo; os da década de 1980 até incentivaram as invasões. Em Teresópolis - e isso é uma aberração! - as pessoas invadem os morros não apenas para morar, mas também para construir casas para alugar e explorar aqueles que precisam de moradia. Muita gente em Teresópolis usura o próximo dispondo-o em seus casebres de aluguel nas áreas de risco. E, quando ocorrem as tragédias, ainda vão à porta da prefeitura para serem recompensados. Pior é que são atendidos e só não conseguem o prêmio sempre porque os políticos não costumam cumprir as promessas que fazem. E, muito menos, entregar as casas que nunca fazem.

     Passamos por novembro, estamos em meados de dezembro, e ainda teremos mais de 120 dias de apreensão. Quem mora em lugares de risco pouco pode fazer para evitar a morte, a não ser atender o alerta da sirene quando ela tocar. Mas, podemos, e devemos nos conscientizar de que algo precisa ser feito. A solução existe e vai além das promessas de residências para os desabrigados, ou de palestras que ensinam como evadir-se de casa em caso de chuvas fortes.