sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

   Zequinha e Quinzinho, os artistas que Teresópolis ainda não homenageou

Zequinha e Quinzinho com Grande Otello, Ankito e Ronald Golias - no filme "Garota Enxuta"

     O processo de colonização de Teresópolis foi iniciado nos anos 1820, com a chegada do inglês George March. Antes dele, já viviam aqui outros imigrantes portugues e, depois, vieram os suiços, italianos, e, entre tantos, outros ingleses e portugueses. A cidade se formou, emancipou-se e cresceu. Mas, ainda nos anos 1960, depois de aberta a estrada direta para o Rio de Janeiro, mais gente de fora chegava. Era o período da imigração interna, com os forasteiros de Minas Gerais, dos estados do Nordeste, ou mesmo do interior do Rio de Janeiro. Todos queriam tentar a vida em Teresópolis, a cidade do Dedo de Deus.

     Foi nesse tempo pós estrada direta que desembarcaram em  Teresópolis  dois homenzinhos que encantaram a todos com a sua irreverente arte. Filhos de José Manso Filho, 1,83cm e Paulina Faria, de 1,65cm, e irmãos de Déborah, Margarida, Lucy e Sebastião, todos de estatura mediana, Zequinha tinha 1,20cm de altura e Quinzinho, 1,13cm. Artistas de cinema, e músicos de grande qualidade, formaram a dupla Zequinha e Quinzinho e, além de viverem dos shows, faziam também apresentações em comícios e programas de rádio, e mantinham um serviço volante de propaganda.

     “Viemos para Teresópolis porque estávamos duros. Chegando aqui, procuramos os irmãos Pimentel, do Cine Arte. Mas não falamos a eles que estávamos na pior. Mentimos sem maldade e dissemos que a nossa intenção era a de fazer uma tournê, começando por Teresópolis, depois Friburgo, Petrópolis e Cachoeiras do Macacu... E, por acaso, passava um filme nosso no cinema, o “Garota Enxuta”. Aí deu para tirar o pé da lama...”, disse Quinzinho à revista Culturarte em 1986. O irmão Zequinha era casado com Regina Gomes Manso e pai de Fernando, Rita de Cássia e Joaquim - todos de estatura normal, Morreu em 1.o de julho de 1979, quando iria se apresentar num show no interior do município, desfazendo-se a dupla que tanto encantou os teresopolitanos.

     O primeiro show de Zequinha e Quinzinho foi no Cine Arte. Segundo disse Quinzinho ao Culturarte, parecia que tinham sido abertos os portões dos colégios da cidade, indo todo mundo para o Alto. A dupla fez ainda muitas apresentações no Cine Vitória, e no Alvorada, mantendo quadros fixos nos programas “Viva o Gordo” e “Chico Anísio”, da rede Globo. Quinzinho foi o robô Aristides da novela Transas e Caretas e teve papel importante no filme “Ali Babá e os 40 Ladrões”, participando ainda de vários filmes de Mazzaropi, entre eles “Betão Ronca Ferro”, “Três Cangaceiros” e “Paraíso das Solteironas”. Os dois trabalharam com renomados artistas brasileiros, entre eles, Renato Aragão, Grande Otello e Ankito.

     - “Fui a Niterói buscar a mudança dessa dupla, isso em 1965. Estávamos em dois carros da prefeitura e trouxemos a família e seus pertences para uma casa no bairro São Pedro. O prefeito da época, Flávio Bortoluzzi, deu contratos na prefeitura para os dois. Lembro como se fosse ontem. Paramos num restaurante na Orla de Niterói, onde eles fizeram um show que agradou muito. Eram duas pessoas de grande coração e sempre gratas a quem os ajudava. Um dos filhos de Zequinha, o Fernando Elias, por exemplo, tem seu nome em homenagem ao médico Fernando Morgado e ao vereador Elias Zaquem, de quem os dois gostavam muito. No sepultamento de Zequinha deu muita gente. No de Quinzinho, nem tanto”, disse Waldair Queiróz, que trabalhou com os dois na prefeitura.

     Zequinha e Quinzinho eram mineiros de Cambuquira, e sempre gostaram de trabalhar nas campanhas políticas. Numa delas, fizeram muito sucesso, atuando como bonecos ventríloquos nos comícios. “Nós trabalhávamos para todos os políticos, inimigos dos inimigos, amigos dos amigos. Político é assim, um briga com o outro mas está sempre de bem. Político tem que ser político, tem que ter cabeça e psicologia para perder um amigo se quiser ganhar dez. Eu já fui candidato mas houve uma traição. Deixa pra lá”, disse em entrevista.

     Em Cambuquira, onde nasceram, esses artistas teresopolitanos são tratados com honrarias. Ganharam até blog para contar as suas aventuras e história, veja em Zequinhaequinzinhoblogspot.com.br. Em Teresópolis, falta ainda quem dê conta de suas memórias. Que tal o nome de uma rua para os dois? Seria a rua Zequinha e Quinzinho, uma homenagem muito justa a esses dois teresopolitanos que dedicaram parte de suas vidas à nossa cidade.