sábado, 5 de abril de 2014

   Heleno Nunes, o patrono da Confederação Brasileira de Futebol 

A sede da CBF na Granja Comary, assim que foi inaugurada
   Existe uma lei municipal que proíbe a troca de nomes de ruas. E embora a sanha política de alguns vereadores permita que se roube parte da homenagem concedida, a lei vem se cumprindo. Gonçalo de Castro, coitado, perdeu uma perna e sua rua divide homenagem com o Monsenhor Nivaldo. Aleijado também ficou o Major Carvalho, com um braço da sua rua homenageando agora o pastor Joaquim do Couto. Até o irmão do Presidente Bernardes, o prefeito Olegário, não está inteiro mais. Sua rua, que ligava a Reta ao bairro dos Pinheiros, agora começa na avenida Delfim Moreira. E roubaram-lhe a homenagem justamente para agradar familiares de quem mais era contra essas desomenagens: o radialista Délcio Monteiro. Bastou que ele morresse para colocarem em seu túmulo fruto de roubo.

   Nada contra os três e sim a forma como foram homenageados. O monsenhor e o pastor merecem louvores e o Olegário fez por ser lembrado. Mas, quem não se lembra do vereador que deu o nome do desconhecido pai para uma rua de Agriões? Aliás, como se homenageia nulidades nesta cidade. Rui Barbosa e Délcio Monteiro devem estar se revirando no caixão...

   Agora, a mesma Câmara que rouba homenagens, esquartejando personalidades da nossa história, saiu em defesa do nosso Heleno Nunes. A gritaria ganhou também as redes sociais e o Facebook quer o busto do Almirante de volta à Granja Comary. E exige ainda que a sede da concentração da Seleção Brasileira de Futebol volte a se chamar “Centro de Treinamento Heleno Nunes”.

   Não sou de concordar com vereadores, e não será com essa Câmara que gostaria de fazer coro. Mas, os vereadores tem razão de estarem descontentes. Onde já se viu desomenagear alguém? E logo o Heleno Nunes. Será que o pessoal da CBF não sabe da importância do Almirante? Será que eles desconhecem a história do futebol e do esporte brasileiro? E a injustiça com o homenageado acontece justamente no mês de 30.o aniversário de sua morte, e às vésperas do seu centenário de nascimento. Quanta insensibilidade...

   A falta de respeito da Confederação Brasileira de Futebol com a família do presidente Heleno ultrapassa os limites do esporte. O Almirante era grande amigo da nossa cidade e a concentração da Seleção Brasileira é bem tombado pelo município. Sendo assim, a mudança deveria ser discutida pelo Conselho de Cultura, e pela Secretaria de Cultura, que jamais permitiriam o crime contra a memória do exemplar cidadão teresopolitano.

   Heleno Nunes é considerado o herói da Estrada Direta. Ele usou seu prestígio pessoal para que a obra fosse feita e, não fosse ele, a cidade amargaria muitos outros anos para ver sua ligação direta com o Rio de Janeiro, coisa que Petrópolis e Nova Friburgo já tinham, e onde o progresso era mais percebido.

   Segundo sua filha Regina, Heleno Nunes era um homem de visão e dentro dessa visão ele não se satisfazia em atuar em apenas uma área. “Ele era Oficial da Marinha e dentro dessa atribuição começou a desenvolver conjuntamente uma posição política e sem abrir mão das demais ações, desenvolveu aptidão para a organização esportiva, tudo dentro da marinha e fazendo tudo ao mesmo tempo. Os primeiros times de futebol com marinheiros foram organizados por ele, inclusive participando de campeonatos e tudo mais. Ainda na Guerra, onde permaneceu em navios, lá mesmo organizava os marinheiros para a prática esportiva e organizava pequenas competições. Sem falar na clara veia política que sempre esteve presente. Tudo isso com muita dedicação em cada uma das áreas que atuava. Mas foi como secretário do Ministro de Viação e Obras Públicas que ele conseguiu uma de suas maiores conquistas, o compromisso da estrada direta para Teresópolis”.

   Em entrevista recente, a esposa Maria Luiza Nunes lembrou que o grande homem, com quem casou-se em 1945, nunca se satisfez em vir para Teresópolis apenas como veranista, e nas suas viagens para cá, desde muito jovem, pensava enquanto o trem subia a serra, nas dificuldades que essa viagem representava, e dizia que seria uma das suas lutas se tivesse condições de mudar essa realidade. “O tempo passou. E, como secretário do ministro de Transportes ele trabalhou por esse compromisso que fez com ele mesmo, transformando o sonho na sua questão maior. Hoje, com essa ampliação da estrada direta, que recebeu mais uma pista e está sendo remodelada, vejo uma confluência geral dos maiores projetos dele para o município de Teresópolis. A nova concentração da seleção brasileira, outro grande sonho dele, sendo tão importante para a  cidade e o país. Foi muito bom o Heleno não ter desistido dos seus sonhos”.

   Queremos o nome de Heleno Nunes de novo o prédio da Concentração da Seleção Brasileira de Futebol, na Granja Comary. A causa é justa, e estamos nela.


   HELENO DE BARROS NUNES, militar, esportista e político, nascido em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 3 de julho de 1915. Filho do almirante Adalberto Nunes, o organizador da Seção de Esportes da Marinha, e de Maria Cândida de Barros Nunes, do lar. Em 1928, ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro, onde realizou o Ensino Fundamental e Médio. Desde esta época já praticava esportes. Em 1930, foi jogador de basquete do Vila Isabel Futebol Clube. Em 1932, ingressou na Escola Naval, onde foi atleta nas modalidades de natação, water polo e basquete. Neste período, competiu por diversos clubes da cidade do Rio de Janeiro, entre eles, o Tijuca Tênis Clube, natação e Fluminense Futebol Clube, basquete. Em 1938, formou-se Oficial da Marinha de Guerra do Brasil e logo em seguida, assumiu a coordenação esportiva da Marinha. Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, foi classificado na Força Naval do Nordeste, e serviu no navio oficina “Belmonte”. Era oficial chefe de reparos e o navio patrulhava as costas pernambucanas. Com o nome de Portela do Jaboatão, a equipe de futebol do navio, foi campeã da Divisão de Pernambuco. Em 1944, foi imediato da Corveta “Jaceguai”, já com um total de 54 mil milhas de comboio naval, desmobilizado em 1945 das operações de guerra. Pelos serviços prestados durante a Segunda Guerra Mundial, tomou-se merecedor da Medalha Naval do Mérito de Guerra de Serviços Relevantes e da Medalha Naval de Serviços de Guerra, com duas estrelas.

   Em 1945, no dia 8 de setembro, Heleno casou-se com Maria Luiza Vasquez Puentes. Em 1946, serviu na Força de Contra Torpedeiros e fez o Curso Superior de Guerra Naval. Foi ainda chefe de gabinete do Diretor de Engenharia Naval e Secretário de Desenvolvimento Industrial.

   Era Presidente da Confederação Nacional dos Pescadores, quando ingressou na política, por intermédio do Deputado Amaral Peixoto, sendo eleito Deputado Estadual, em 1954, pelo PSD. Pouco mais tarde, foi convidado para a função de Chefe de Gabinete do então Ministro da Viação, Almirante Lúcio Meira, seu amigo particular. Nesta etapa de sua vida, teve início a grande “batalha” pelas obras de construção da estrada Rio-Teresópolis, que já haviam começado, porém encontravam-se praticamente paralisadas. Lutando muito junto ao DNER, para aceleramento destas obras, tudo começou a correr satisfatoriamente, até a inauguração da estrada, em 1º de agosto de 1959, pelo então Presidente Juscelino Kubitschek. Ainda como Deputado, foi Secretário de Energia Elétrica do antigo Estado do Rio de Janeiro. Criador e primeiro presidente das Centrais Elétricas Fluminense (CELF). Trabalhou pela construção da linha de transmissão de torres metálicas para trazer energia elétrica em melhores condições técnicas a Teresópolis, onde reformou a rede elétrica da cidade, e instalou a subestação Fonte Santa; estendendo-se, também, a eletrificação a áreas rurais do Estado.    Como Secretário de Energia realizou ainda obras de iluminação à Vapor de Mercúrio na cidade de Teresópolis e em Niterói, na Praia de Icaraí e na Alameda São Boa Ventura.
Afastou-se da política em 1966 e, em 1967, exerceu o cargo de Diretor de Futebol da extinta Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Exerceu ainda, os cargos de Presidente da Federação Carioca de Boxe, diretor de futebol do Bonsucesso F.C. em 1969, e Diretor de Futebol do Vasco da Gama em 1970, depois de ter conquistado o Campeonato Carioca. Em 1973, foi agraciado com a Medalha do Mérito de Tamandaré. Em 10 de Janeiro de 1975, Heleno de Barros Nunes foi eleito, por unanimidade de votantes, ao cargo de Presidente da CBD, hoje CBF. Em dois mandatos sucessivos na presidência da CBD, destacou-se por importantes realizações, entre as quais a chamada interiorização do futebol, que chegou a reunir, aproximadamente, 80 clubes, de todas as capitais e de muitas cidades do interior dos estados, cuja motivação e entusiasmo nacional que provocou, levou o clube de futebol Guarany, de Campinas, SP, a sagrar-se campeão brasileiro, em 1978.


   Legou, ainda, em sua administração, o Centro de Treinamento, em Teresópolis, RJ, através da compra, pela entidade, de ampla e nobre área situada na Granja Comary e do planejamento da obra que havia idealizado, que, construída em gestão posterior, foi denominada, com justiça, CENTRO DE TREINAMENTO HELENO NUNES (CETREN). Nesta mesma época, como eminente líder político que era, foi convidado pelo Governo Federal para presidir o Diretório Fluminense da ARENA. Heleno Nunes dedicou-se 35 anos à carreira militar e por 15 anos dedicou-se a política partidária, quando, no exercício de diversos cargos públicos, realizou inúmeras obras, como pavimentação de estradas, avenidas, melhoramentos e dragagem de rios, evitando enchentes e possibilitando aos agricultores melhores terrenos para o cultivo. Colaborou ainda, na construção de hospitais, creches, escolas, igrejas e particularmente, campos de futebol. Mais tarde, liberado dos cargos políticos, Heleno Nunes exerceu funções na iniciativa privada, como membro do Conselho Consultivo das Casas Sendas Com. e Ind. S.A. e membro da diretoria da Marka S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Faleceu, em 3 de março de 1984, em Teresópolis, de um edema pulmonar, quando exercia o cargo de Diretor da Companhia de Eletricidade de Nova Friburgo. Deixou sua esposa, Maria Luiza Puentes Nunes, duas filhas, Luiza Helena Nunes Ermel, casada com o Capitão de Fragata José Fernando Ermel e Regina Helena Nunes da Rocha, casada com o Coronel do Exército Paulo Renato Ferreira da Rocha, cinco netos e um número incalculável de amigos, das diversas camadas sociais, especialmente, pessoas humildes, particularmente, da cidade de Teresópolis, as quais acompanhou e amparou, durante toda sua vida.