sexta-feira, 8 de março de 2013

A enfermeira Helena Turl e seus álbuns da história de Teresópolis

  Mulheres de memória invejável

     Oito de março, ocorre hoje o Dia Internacional da Mulher.  As comemorações foram muitas, no mundo inteiro, e Teresópolis participa da festa até o final do mês com vasta programação elaborada pela Secretaria dos Direitos das Mulheres. Duas exposições, na Casa de Cultura Adolpho Bloch e Casa da Memória Arthur Dalmasso, “Olhar Feminino” e “Mulheres na História”, reafirmam a importância da data, e do mês de março que é dedicado às mulheres.
     É tempo de cultuar as personalidades femininas que se destacaram e estão vivas na memória através dos relatos dos seus feitos. Quem não sabe quem foram Ana Nery, Teresa de Avila, Teresa Christina... E as mulheres teresopolitanas? Certamente sabe-se bem quem foram aquelas que estiveram à frente de movimentos sociais, ou que foram empreendedoras e têm a maioria delas, por isso, guardadas as suas memórias nas placas das ruas e de prédios, ou através dos documentos oficiais que relatam os feitos daquelas que ocuparam cargos públicos - já tivemos mulher prefeita, mulheres juízas e promotoras, mulheres vereadoras, e foram várias.
     Hoje, então, é dia para lembrar de todas essas mulheres. E difundir as suas virtudes para que seus feitos sejam repetidos pelas gerações que virão.
     Todas merecem o devido carinho. E, cabe lembrar de uma, em especial, para que se resuma e represente as qualidades das demais. Poderia falar de uma mulher que se destacou na política, na educação, no esporte, na cultura, ou num negócio qualquer. Mas, estaria cometendo uma injustiça grande se não lembrasse aqui, para registrar a garra das mulheres - e definindo a importância de todas elas! -, de uma mulher que não foi professora, nem atleta, escritora e empreendedora, ou muito menos ocupou cargo público algum.
     Hoje, 8 de março, é também dia de aniversário da enfermeira Helena Turl. No dia da Mulher, essa amiga de tanta gente na cidade comemorou seus 77 anos. Passou o dia no Rio de Janeiro, cuidando de uma filha que está adoentada - a enfermeira Helena, apesar de seu corpo já debilitado, não perdeu o costume de cuidar dos outros, nem de se preocupar com o próximo. No mês passado estava envolvida com a entrega de uma cama hospitalar para uma pessoa que nem conhecia direito e, lembro da última vez que a ví, em dezembro, tinha me procurado no DIÁRIO para fazer uma reportagem em seu bairro que sofre de males que são crônicos em toda a cidade: buracos, falta d’água, luz fraca e ônibus com frequentes atrasos...
     Dona Helena é assim. Vive pelos outros, sejam seus filhos, netos, amigos ou vizinhos. Essa senhora de grande compaixão nasceu em 1936, na Barra do Imbuí, filha de Aurino Claussen Turl e Maria Corina Paim Turl. Teve a mesma infância de toda criança sem problemas e, quando atingiu a idade escolar, foi alfabetizada pela mãe, logo depois cursando o primário no Grupo Escolar Higino da Silveira e, mais tarde, o curso ginasial no Colégio Teresa Cristina.
     Toda criança, ou melhor, todo ser humano tem uma meta a atingir na vida e Helena teve como sonho ser enfermeira e trabalhar em hospitais. O exemplo para esta profissão ela teve em casa: sua mãe era enfermeira do Posto de Saúde e era também a única pessoa do bairro que aplicava injeções, sendo esse o motivo pelo qual achava importante ser enfermeira: “eu queria ser igual a minha mãe! Aos 12 anos me senti quase realizada, pois tive a oportunidade de aplicar minha primeira injeção. Aos 16 casei-me e tive três filhos: José Carlos, Lúcia Helena e Vera Lúcia, que me deram seis netos: Flávia, Luciano, Tatiana, Ana Paula, Artur e Rafaela. Com 19 anos ingressei no Hospital Municipal para exercer a profissão de enfermeira. Estava realizada...”, disse em entrevista a O DIÁRIO, em 2008. “Ser enfermeira não é andar de capa esvoaçante; não é ter o dia inteiro o uniforme imaculadamente branco; não é ter os cabelos sempre arrumados ou estar sempre bem vestida... Na vida real, a enfermeira tem, no final do dia de trabalho, o uniforme um pouco amassado; os cabelos rebeldes saindo para fora da rede; as pernas doloridas de tanto andar de um lado para o outro... Tive grandes emoções, mas a maior de todas foi quando realizei meu primeiro parto. Pela primeira vez ajudei com minhas mãos uma criança nascer, um ser humano com um futuro à sua frente. Quando me lembro disso, vem à minha mente a frase de que em cada criança que nasce renasce a esperança que Deus ainda tem fé na humanidade”, relatou.
     Helena Turl trabalhou em diversos hospitais. Ela é do tempo do Hospital Municipal, da Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima, da Maternidade Doutor George Beutner... 
     Na entrevista que deu a O DIÁRIO, Helena lembrou que a “melhor seção” onde trabalhou foi o Centro Cirúrgico, onde se sentiu mais realizada. Aposentada em 1994, a enfermeira afastou-se da lida nos hospitais, mas continuou, e continua, buscando aplicar o seu conhecimento. Fez o parto da filha e da nora e teve nos braços, antes de qualquer outra pessoa, os netos Flávia e Luciano.
     Mas, cuidar da saúde da família, dos vizinhos e até de gente que não conhece é pouca tarefa para Helena. A enfermeira ainda arranja tempo para outra atividade que faz como lazer. Helena Turl cuida também da memória de Teresópolis. Coleciona livros, fotografias, ilustrações, folhetos, cartões de família e centenas de recortes de jornais contendo notícias sobre sua família, em especial sobre os feitos de seu bisavô, Coronel Henrique Fernando Claussen, num exemplo de profundo respeito por aqueles que, inegavelmente, prestaram relevantes serviços e contribuíram efetivamente para o desenvolvimento de Teresópolis.
Irmã de Evani, Marilda e José Luiz, Helena Turl guarda também, como não poderia de ser, a memória do seu tempo de hospital. São valiosas informações sobre seu trabalho como enfermeira, além de diversas fotografias de seus colegas, orientadores e profissionais que nos últimos 50 anos trabalharam e contribuíram para o desenvolvimento da Medicina no município e para o crescimento da instituição.