domingo, 1 de dezembro de 2013

Parque Nacional da Serra dos Órgãos

Jornal anuncia risco que o Parque correu, em 1958

Criado pelo Decreto 1822, de 30 de novembro de 1939, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos cresceu de tamanho, tornando-se uma das maiores áreas de proteção ambiental do país. É também um dos mais importantes, um dos mais visitados e um dos mais conhecidos parques brasileiros. Espécies raras da fauna e da flora estão aqui protegidas, algumas endêmicas da região, inclusive pouco conhecidas, o que provoca a curiosidade de cientistas, principalmente estrangeiros, e estudantes de várias universidades que buscam Teresópolis para sua formação.

O ParNaSO guarda também monumentos geológicos de grande interesse para a humanidade. Maravilhosa cadeia de montanhas, que compõe a Serra do Mar, nossa cordilheira provoca a ambição dos aventureiros desde meados do século 19, segundo relatos dos jornais de época.  A curiosidade sobre os seus cumes determinou até o início da prática do alpinismo no Brasil: Desbravado em 1912 pelos teresopolitanos José Teixeira Guimarães, Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Américo e  Alexandre Oliveira, o Dedo de Deus tornou-se o símbolo do montanhismo nacional. Uma das escaladas mais escabrosas, e temida pelos que incomodam-se com a altura, a Agulha do Diabo está entre as dez montanhas mais cobiçadas do mundo. Composto pelo Capucho, o Nariz, a Verruga, o Queixo e a Cruz, e de mais fácil acesso, o Perfil do Frade é outro que encanta a muitos. Mais democráticas ainda, as caminhadas no Parque tornaram-se lazer obrigatório para os jovens da cidade. As trilhas do Sino, da Primavera, o Cartão Postal, o mirante Mozart Catão... A travessia Petrópolis-Teresópolis é conhecida no Brasil inteiro e virou referência para quem gosta de caminhadas.

Passados aqueles primeiros anos de sua formação, quando Teresópolis viu-se na iminência de perder a importante reserva florestal diante das pendengas judiciais ocorridas até o ano de 1960, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos alcançou a maioridade com sossego e, sucessivamente, vem sendo cada dia mais abraçado pela consciência ambiental. Recentemente, em setembro de 2008, quase dobrou de tamanho, pulando dos 10.527 hectares dos anos 1950 para 20.024 hectares, e isso deve-se muito ao ex-Ministro Carlos Minc, que ampliou a nossa área de proteção para os limites dos municípios de Magé, lingando-o à reserva do Tinguá.

Criado pelo presidente Getúlio Vargas, durante período de excessão democrática, entre 1930 e 1945, o Parque Nacional compunha-se de uma área de 8.450 hectares e foi ampliado em 1.500 hectares no ano de 1950, pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, ato confirmado em 1953 pelo presidente eleito Getúlio Vargas, quando teve anexada grande área de terras da fazenda Garrafão, que compreendia as matas do Escalavrado, Dedo de Nossa Senhora, Dedo de Deus, Peixe e Frade, ampliando seu tamanho para quase 11.000 hectares, impedindo que os sopés destas montanhas se tornassem parte da urbe.

Conquista de presidentes, ambição de cientistas e sonho de teresopolitanos, brasileiros que ousaram pensar ecologicamente quando esse tema não estava ainda nas mesas de debates, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos deve sua existência muito aos seus diretores. E o primeiro deles, Gil Sobral Pinto, gostou tanto do lugar que foi seu administrador por cerca de onze anos, entre 11 de setembro de 1940 e 11 de abril de 1951. Hoje, é diretor do ParNaSO o biólogo Leandro Goulart, que assumiu em 2011, substituindo Ernesto Viveiros de Castro, que entrou no lugar de Bernardo Issa, em 2003. Alguns mais, outros menos, todos contribuiram muito para que a unidade de conservação fosse implantada, e mantida, devendo-se a eles algumas conquistas não obtidas por outras áreas de proteção. No box, a relação dos administradores do Parque.

Apresentado pelo engenheiro agrícola Jose A. Vieira, um estudo publicado cerca de 60 anos atrás, define que o Parque Nacional da Serra dos Órgãos tinha como objetivo a expansão econômica, turística e científica, servindo ainda para proteger os mananciais, manter as florestas e preservar as terras à jusante contra os efeitos da erosão das enchentes.

Pouco mais de dez anos depois de criados os primeiros parques nacionais do país, José Vieira justifica a inédita iniciativa pela possibilidade de sua exploração turística, sendo os parques uma "fonte higiênica, recreativa e de vitalização econômica". O estudo da flora, da fauna e da geologia regionais, além da preservação dos monumentos geológicos, eram também outras justificativas. Publicado na revista Informação Agrícola em 1955, o trabalho traz informações preciosas sobre a região da Serra dos Órgãos, já muito visitada por naturalistas e botânicos de renome, mas ainda carente, àquela época, de um trabalho metódico e completo sobre a sua flora e fauna. Ver box.

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos em 1955

Oberservações já efetuadas revelam que a flora a não ser na periferia e mesmo aí em áreas diminutas, está ainda totalmente isenta  de promiscuidade de plantas exóticas. A floresta maior do Parque apresenta o aspecto comum de vegetação serrana dessa parte do Brasil, isto é, nela predominam as espécies das famílias das leguminosas, das lauráceas, das mirtáceas, das meliácias, das bignomiáceas sapotácias, solanacias, rubiacias, etc. Sobressaem, assim, as cássias, os cedros, as cangeranas, as canelas, os ipês, as jaboticabeiras do mato, os miricis, os jequitibás, as quaresmeiras, etc. As bromeliáceas formam típicos maciços de grande extensão sobre a rocha viva.
A fauna, afugentada para o recesso das montanhas e das matas, pela continuada exploração de pedreiras, e pela construção das estradas Itaipava-Teresópolis e Rio-Teresópolis, vai retornando, a despeito da deficiência da fiscalização de guardas florestais. Rica em insetos, e sobretudo notável na abundância de lepdópteros (borboletas noturnas e diurnas), coleópteros, himenopteros (abelhas e marimbondos, etc), dípteros (moscas), himípteros (cigarras), ortópteros (gafanhotos), etc. Relativamente pobre em ofídios, apresenta, entretanto, relativa abundância de jararacas e grande variedade de batráquios.
A ornito-fauna, ainda pouco estudada, é representada por sanhaços, tico-ticos, andorinhas, etc, e por pássaros entre os quais sobressaem os canários e os sabiás "laranjeiras" e "Una", tidos os melhores cantadores do Sul do Brasil. As aves mais comuns são as capoeiras, os jacus, os nambus e diversas pombas (rolinha e juriti). Quanto ao macuco diz-se existir nas matas menos atingíveis. Os macacos são vistos, às vezes, até na sede do Parque. Entre os quadrúpedes, destacam-se os gatos e cachorros do mato, iraras e menos comumente a maracajá. Os tatus são muito abundantes. A paca é principalmente atraída pelas roças do milho do Vale do Jacó. O encontro de antas nos banhados de altiplano do Parque sugere reintrodução desse mamífero, o maior da fauna americana.
José A. Vieira.

DIRETORES DO PARQUE NACIONAL:
11.09.1940, Gil Sobral Pinto;
07.06.1942, Neoarch da Silveira Azevedo;
19.09.1942, Wanderbilt Duarde de Barros;
13.05.1943, Gil Sobral Pinto;
12.04.1951, Altamiro Barbosa Pereira;
05.06.1951, Quintino Dourado Maranhão;
02.10.1951, Manoel Vergosa G. Fraga;
08.02.1955, Dael Pires Lima;
24.10.1956, Elyowald Chagas de Oliveira;
29.05.1975, Tarcisio Lima Aragão;
04.07.1975, Antonio Domingues Aldrighique;
04.12.1975, Cesar Lamenza;
09.04.1977, Mário D'Amato Martis Costa;
01.10.1991, Oscar Rensburg;
25.11.1991, Kurt Trennepohl;
28.05.1992, Francisco Neves de Carvalho;
09.10.1992, Jovelino Muniz Andrade Filho;
Setembro de 2003, Bernardo Issa;
Dezembro de 2003, Ernesto Viveiros de Castro;