sexta-feira, 5 de abril de 2013


A velha política da promessa de casas em Teresópolis

Coluna WanDerLey deste sábado resgata a memória da política
     Em janeiro de 1962, quando era prefeito Omar Magalhães, a prefeitura anunciou que construiria no bairro São Pedro 40 unidades habitacionais destinadas às famílias carentes. À época, além da falta de residências para os operários, inclusive os funcionários municipais, as favelas estavam proliferando no bairro do Alto e remover as construções irregulares era necessário. Antes do final daquele ano, além de entregar as moradias, o prefeito inaugurou também o bairro dos Funcionários - que tinha o seu nome, “bairro Omar Magalhães” - dando início à ocupação da pouco habitada Vidigueiras, atual São Pedro, o maior bairro popular da cidade.
     De lá pra cá, a cidade conviveu com vários outros prefeitos - oito eleitos, e alguns substitutos - e nunca mais se construiu casas populares. No seu período à frente da prefeitura, entre 2003 e 2008, o ex-prefeito Roberto Petto chegou a construir cinquenta casas no Matadouro. Mas, essas nem contam porque “andaram caindo” antes mesmo de serem habitadas e foram interditadas - hoje, de forma improvisada, algumas estão ocupadas por invasores do próprio bairro. Tem ainda as casas da fazenda Fonte Santa, construídas pelo governo do Estado para as vítimas da tragédia do Perpétuo, em 2002. Mas, fizeram só isso, e todas custando um dinheirão.
     No entanto, apesar de não terem feito casa alguma, os políticos que mandaram em Teresópolis nestes últimos 50 anos, ou não se preocuparam com as moradias populares, ou colocaram as casas como suas principais promessas eleitoreiras. Deve ser pelo exemplo de Omar Magalhães, que virou até nome de bairro e acabou perdendo a homenagem, pouco se sabendo nos dias de hoje sobre a sua capacidade administrativa e, principalmente, do seu hábito de cumprir o que prometia. Omar fez as casas que disse que faria, e ainda abriu um bairro popular, viabilizando a realização do sonho da casa própria para muita gente.
     Depois de Omar, veio Flávio Bortoluzzi, prefeito por duas vezes, entre 1963 e 1966 e, depois, entre 1971 e 1972. De 1967 a 1970, foi prefeito Waldir Barbosa e, de 1973 a 1976, governou a cidade o ex-prefeito Roger Malhardes. O sucessor do prefeito das Casas Populares gostava de arte e fez, entre outras coisas, o Festival de Cinema Brasileiro, elevando Teresópolis à categoria de “Cidade dos Festivais”. Waldir Barbosa, que era médico, inaugurou o Hospital das Clínicas e fez muitas escolas, e ainda outras coisas. Malhardes já tinha feito pontes no seu mandato de 1951 a 1954 e aproveitou para fazer outras tantas ligações de margens, e também outras coisas, entre elas, o CEROM, que guarda a memória de seu nome, no bairro São Pedro.
     Os antigos, e os relatos deixados através da imprensa, informam que Flávio, Waldir e Malhardes foram bons prefeitos. Mas, essas fontes de informação ignoram que eles tenham se preocupado com a construção de casas populares. Não fizeram, nem teriam feito promessas.
     Mas, no governo Pedro Jahara, entre 1977 e 1982, foram prometidas muitas casas populares. No governo seguinte, de Celso Dalmaso, outras tantas também foram prometidas. A quantidade mais utilizada por esses dois prefeitos, que ficaram na prefeitura seis anos cada, foi de 500 casas. Vira e mexe, a imprensa anunciava as sonhadas moradias, nunca construídas.
     Para não ser injusto, o Celso até fez algumas destas casas. Construiu doze no bairro Caleme, para onde levou algumas famílias que estavam morando numa favela que surgia próximo ao Soberbo.
     Em 1988, terminado o período da “política velha”, e iniciado o período da “política brava”, sucedeu Celso o prefeito Tricano. Este, além de muito prometer, fez do não cumprir sua segunda especialidade. Valia o escrito e, valendo-se daqueles que com ele escreviam, o então bicheiro conseguiu anotar em Brasília recursos para a construção de cerca de 200 casas populares em Teresópolis. Era um prognóstico e tanto. Mas, como também estava prognosticado, o prefeito não era de fazer e, ruim de apontamento, não fez as casas que, exigidas na prestação de contas, o obrigaram a escrever que as tinha feito. Aí, para fazer valer o escrito, pegou as doze casas do Celso e fez delas vinte e quatro, construindo outras dezenas no morro do Tiro e no Matadouro, não chegando a uma centena, ficando distante o número acertado.
     Para ser justo, e não parecer que o prefeito não pagou pelo pecado cometido, sabe-se que ele foi processado pela irresponsabilidade, improbidade administrativa que o incomodou bastante nos anos seguintes. Mas, nada que o tirasse da eleição que escolheu o sucessor do prefeito que o sucedeu. Nem que o impedisse de torná-lo o escolhido, eleito novamente, e justamente, com os votos de quem poderia estar morando nas casas que ele não construiu - prova de que a promessa vale mais que a realização. Aliás, essa última palavra era outra promessa sua, por ironia, marca do seu segundo governo.
     Agora, passados quase dois anos das chuvas de janeiro de 2011, guardamos registros mais recentes do quanto os políticos continuam enganando os eleitores. Logo que aconteceu a tragédia, o governo anunciou que entregaria as casas nos “próximos meses”. E, passados os meses próximos, foi ficando cada dia mais distante a data para o cumprimento da promessa feita. Seria “antes das eleições”, assim que “passada a eleição”, “no início do ano”, “no meio do ano” e, chegado ao fim o ano de 2012 esse prazo também foi descumprido, não se tendo previsão alguma do início das obras.
     E não é só prefeito que engana o povo não. O governador e seus secretários estaduais andaram por aqui prometendo casas, sem contar os outros tipos de mandatários que fizeram da promessa de casas populares um negócio eleitoral. Na última campanha, por exemplo, teve um deputado candidato a prefeito que prometeu construir 5 mil casas populares caso ganhasse. No pleito em que o prefeito campeão em promessa de casas mentiu ao eleitor dizendo que podia ser candidato, e com a sua mentira conseguiu ser o mais votado, e outros mentirosos o imitaram tão bem no discurso da promessa de casas, teve até candidato a vereador, destes que só sabem fazer moções e indicações legislativas durante o mandato,  que em busca de enganar o povo, afirmava em seus carros de som de campanha ter feito lei que obrigava a prefeitura a construir casas com dinheiro do orçamento municipal.
     Olhando o passado, vemos a memória mostrar que a história está repleta de promessas não cumpridas e, incrivelmente bem sucedidas. Afinal, quem casa quer casa, há muito tempo ouvimos isso. Quem perde casa está querendo casa, sabemos disso também. E, se quem casa quer casa e quem perde casa quer casa, quem quer voto de quem quer casa, promete casa, e assim vamos vivendo de promessas de mais casas...