segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O poeta Manoel Pereira

  O verso crítico de Pereira

     O presidente da Academia Teresopolitana de Letras, Delmo Ferreira, pediu à coluna WanDerLey, uma poesia do imortal Manoel Pereira para inserção no Boletim da ATL, que circula todo mês. Dos quatro livros do poeta morto em outubro passado, tinha percebido em meu acervo apenas o "Também Sou Presidenciável", de 1984, onde o político ofereceu o nome como candidato a presidência da República. Isso, em plena era de repressão. Mas, procurando melhor, achei outra obra sua, "A Revolução dos Poetas", editado em 1991 pela Revista da Cidade Editora, de Jheovah Silva. E, nesse livrinho onde foram publicados versos seus e do amigo Luiz Arruda, encontrei um texto de 1979 que bem define o Pereira. É a "Síndrome de São Bernardo", que vai publicado abaixo e confirma a acidez crítica do político e sociólogo, que também era dentista. Pra quem viveu, e tinha que existir intelectualmente nos "anos de chumbo" o poema traz à memória essa triste época e vale a pena ser lido.
     Irmão de Davi, Ana Maria, Antonio, José, Isabel, Luiz Carlos e Jorge, Manoel Pereira era casado com Sueli e pai de Victoria Maria, de quinze anos. O poeta nasceu em 25 de março de 1948, filho de Manuel da Cruz Pereira e Maria Luiza Cerqueira. Estudou em Niterói, cursando Direito na Faculdade Gama Filho, formando-se em odontologia pela Faculdade de Nova Friburgo, pós graduando em odontologia no College de Recherches, em París, tornando-se membro da International Implant Society. Diplomado em oratória moderana, era membro da Academia Teresopolitana de Letras, tendo fundado o jornal Folha do Ponto e editado os livros de poesias "Canto Mudo", "Teresópolis Meu Canto de Hoje" e "Canto Terceiro e Patética", entre outros.
     Político contestador, Manoel Pereira ofereceu seu nome ao eleitor por várias vezes, chegando a lançar-se candidato a presidente da República, em 1984, quando lançou seu livro-manifesto "Também sou presidenciável", apontando para o capítulo IV da Constituição Federal, que previa direitos e garantias individuais numa época onde o país ainda estava sob o jugo da Ditadura Militar. Quatro anos depois, em 1988, lançaria sua candidatura a prefeito de Teresópolis, fazendo 5.086 votos numa eleição que teve oito candidatos. Manoel Pereira chegou em quarto lugar, atrás de Pedro Jahara (10.318 votos) e Luiz Barbosa (15.297), eleição ganha por Tricano, com 20.492 votos. Em 1990, seria candidato a deputado estadual, fazendo 2.441 votos e, mais uma vez candidato a prefeito, em 2004, fez 741 votos. Na eleição passada, de 2008, para ajudar o seu partido, foi candidato a vereador, não conseguindo eleger-se ou, ao menos, ser bem votado.
     Trabalhava desde 2009 na Ouvidoria Municipal, sendo um de seus organizadores, e onde mostrou seu talento na lida com os problemas alheios, seu grande sonho. Era Manoel Pereira quem fazia o primeiro atendimento, e encaminhava as reclamações aos setores reclamados, sendo fiel despachante do reclamante na busca da solução do problema.

SÍNDROME DE SÃO BERNARDO
O trabalhador produz
o país cresce (em termos)
O trabalhador pede
o patrão nega
o país perde e pára (em termos)
O trabalhador tenta dialogar
o Ministro diz não, em defesa do patrão
O trabalhador implora
a "justiça" nega
O trabalhador pára
O governo prende
o país sente (em termos)
A igreja apóia, cede sua casa
O trabalhador se organiza
do abrigo exige
O GOVERNO INTRANSIGE
As multinacionais perdem
(nos lucros)
(nos desvios)
(nos mandos e desmandos)
O trabalhador sai em campo
pisa forte e luta
O General se irrita (o outro)
do palácio grita
O trabalhador é duro, é pedra
o aparato o brita
O país assiste inerme
o corruptor corrompe
A corda rompe
a ameaça existe
O trabalhador desiste
As multinacionais lucram
o General sorri
O país perde
o povo dorme
a síndrome se recolhe.
O Palhaço. Apresentação de grupo de Folias de Reis em Teresópolis,
em janeiro de 2010, na praça Balthsar da Silveira

  6 de janeiro, o dia de Santos Reis

     Seis de janeiro é o dia de Santos Reis. Marca a visita de Belchior, Gaspar e Baltazar, os venerados reis magos, ao menino Jesus, tradição surgida no século VIII, quando os reis foram convertidos em santos. Na data, encerram-se para os católicos os festejos natalícios, quando devem ser desarmados os presépios e enfeites natalinos.

     Manifestação popular surgida em Portugal, onde tinha o caráter de diversão, e trazida para o Brasil no século XVIII, onde tornou-se uma festa religiosa, a Folia de Reis se apresenta a partir da noite de Natal, culminando com a apresentação de 6 de janeiro. Paramentados com roupas coloridas, acompanhados de cantadores e instrumentistas, os foliões percorrem os bairros humildes das cidades e, principalmente, a periferia e o interior, entoando versos e cantando hinos contando sobre a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus. Passam de porta em porta em busca de oferendas, que podem variar de um prato de comida a uma simples xícara de café.

     Os principais instrumentos utilizados pela folia são a viola, violão, sanfona, chocalho, cavaquinho, triângulo, pandeiro, reco-reco e outros instrumentos e os personagens são quase sempre em número de doze pessoas, integrantes que trajam roupas bastante coloridas.

O Mestre e o Contra-Mestre são os principais nomes da folia, os donos do conhecimento sobre a manifestação, que exercem o comando sobre os foliões, na maioria, agregados dos tocadores de instrumentos. Outro ítem interessante que algumas folias apresentam é o palhaço, que brinca com o público e dissimula seu jeito cínico, tendo como função proteger o Menino Jesus, confundindo os soldados de Herodes. Seu jeito alegre e suas vestes coloridas, além de seus versos engraçados, são responsáveis pela distração e divertimento de quem assiste à apresentação. O palhaço representa o Mal e, por isso, geralmente usa máscara aterrorizante, confeccionada com pele de animal, atuando como um personagem mal-quisto no próprio grupo, de quem mantém distância.

     Comemorado nos últimos três anos com um festival de folia de reis em Teresópolis, o dia de Reis foi lembrado no último domingo no Cultura de Raiz, evento da Prefeitura organizado pela secretaria municipal de Cultura. E, para mostrar sua importância, vale transcrever a letra da música de Tim Maia, "A Festa do Santo Reis", que fala, justamente, do esquecimento do brasileiro quanto à importância do dia de Reis.

"Hoje é o dia de Santo Reis

Anda meio esquecido
Mas é o dia da festa
De Santo Reis
Hoje é o dia de Santo Reis
Anda meio esquisito
Mas é o dia da festa
De Santo Reis...

Eles chegam tocando

Sanfona e violão
Os pandeiros de fita
Carregam sempre na mão
Eles vão levando
Levando o que pode
Se deixar com eles
Eles levam até os bodes...

É os bodes da gente

É os bodes, mééé
É os bodes da gente
É os bodes, mééé...

Hoje é o dia de Santo Reis

Hoje é o dia de Santo Reis
Hoje é o dia, hié! hié!
De Santo Reis
Hoje é o dia de Santo Reis
É o dia da festa, hié! hié!..
                                                            "