domingo, 17 de março de 2013

  Um patrimônio público que precisa deixar de ser ignorado

     Quem visita o Mirante sofre um impacto: primeiramente, pela beleza da obra que não se supõe tão grandiosa; segundo, pela depredação de vândalos que não respeitam o patrimônio histórico... A valorização do Mirante da Granja Guarani, conduzindo-o de novo às raízes de seu trabalho, vem, por certo, na direção da cultura, da arte, e do transbordamento histórico”.  Texto de Osiris Rahal, transcrito do livro Reminicências, editado em 1987


Denúncia na imprensa por vários anos: Há muito tempo o mirante está em ruínas
     Atrativo turístico, sítio histórico que remonta a origem dos bairros de Teresópolis, local que transpira arte e cultura... Apesar de uma importância que engloba vários interesses públicos, e de tantas promessas pela sua recuperação, o Mirante da Granja Guarani está em ruínas. “Quem visita o Mirante sofre um impacto: primeiramente, pela beleza da obra que não se supõe tão grandiosa; segundo, pela depredação de vândalos que não respeitam o patrimônio histórico... A valorização do Mirante da Granja Guarani, conduzindo-o de novo às raízes de seu trabalho, vem, por certo, na direção da cultura, da arte, e do transbordamento histórico”. Apesar de atual, o texto foi escrito há mais de 20 anos, publicado no livro “Reminicências”, do escritor Osiris Rahal, em 1987.

     "Situada entre os caminhos sinuosos da Granja Guarani”, onde se desfruta de um amplo e belo panorama da Serra dos Órgãos, da CBF e do bairro do Alto, a construção neocolonial ainda guarda resquícios da beleza que provocou visitantes do mundo inteiro e de veranistas, encantados com o seu estilo arquitetônico de influências coloniais mexicanas e mouriscas. Também conhecido como “Quiosque das Lendas”, o bem é composto por dois corpos interligados por um avarandado coberto, encimando uma grande elevação que forma uma espécie de platô, o mirante tem cobertura em telha-canal com coruchéus, que remetem aos caramanchões por sua forma circular, daí ser também conhecido como “carra-manchão” da Granja Guarani.

     Centro das admirações dos que se preocupam com a memória, a interessante construção emoldurada por colunas tosca-nas de capitel simples e arcos de alvenaria revestidos com azulejos portugueses é obra do engenheiro teresopolitano Carlos Nioac de Souza. Produzidos em Lisboa no ano de 1929, os azulejos que revestem o mirante foram pintados  pelo renomado artista Jorge Colaço (1864-1942) e contam quatro lendas indígenas: O Dilúvio”, “O Anhangá e o Caçador”, “A moça que saiu para procurar marido” e “Como apareceu a noite”. O autor dos traços fortes, em azul sobre branco, foi um dos maiores azulejistas de Portugal no princípio do século XX, com  trabalhos expostos desde o Palácio de Windsor na Inglaterra, até o Centre William Reppard na Suíça, passando por países como Cuba, Argentina, Brasil e Portugal.

     Tombado em janeiro de 1988 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, que o catalogou como “uma pequena jóia neocolonial”, o Mirante da Granja Guarani é “protegido” também pela Lei Orgânica Municipal, de 1990. Mas, embora tenha grande importância histórica para o município, além de seu enorme apelo turístico e cultural, o prédio representa hoje apenas um monumento ao descaso das autoridades que, ao longo dos últimos trinta anos, deixaram que ele chegasse ao deplorável estado em que se encontra.




  Mirante da Granja Guarani, o “Quiosque das Lendas”

Na gênese indígena, guerreiros cometem "o pecado" e liberam a noite, escondida num coquinho
     Centro das admirações dos que se preocupam com a memória, o Quiosque das Lendas está provocando a atenção das autoridades e dos moradores do bairro da Granja Guarani, situado no Alto de Teresópolis. Interessante construção emoldurada por colunas toscanas de capitel simples e arcos de alvenaria revestidos com azulejos portugueses, o mirante é obra do engenheiro teresopolitano Carlos Nioac de Souza, feito no ano de 1929, por encomenda do loteador da Granja Guarani, Arnaldo Guinle.

     Neste domingo, a professora Mônica Botafogo participou de evento da Secretaria de Cultura no Mirante e contou para interessado público de adultos e crianças uma das lendas retratadas nos azulejos depredados que ainda ilustram teimosamente o importante monumento. Produzidos em Lisboa, os azulejos que revestem o importante prédio, que é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico desde 1988, foram pintados  pelo renomado artista Jorge Colaço (1864-1942) e contam quatro lendas indígenas: O Dilúvio”, “O Anhangá e o Caçador”, “A moça que saiu para procurar marido” e “Como apareceu a noite”. O autor dos traços fortes, em azul sobre branco, foi um dos maiores azulejistas de Portugal no princípio do século XX, com  trabalhos expostos desde o Palácio de Windsor na Inglaterra, até o Centre William Reppard na Suíça, passando por países como Cuba, Argentina, Brasil e Portugal.

     A lenda escolhida pela Voluntária da Cultura foi “Como a noite apareceu”, contando a história da filha do Cobra Grande e a curiosidade dos três emissários de seu noivo, que abriram o côco de tucumã e liberaram assim  a noite sobre o mundo, com pássaros que cantam ao amanhecer e outros ao anoitecer.

     Outra lenda, “A moça que saiu para procurar o marido” relata a história da índia guarani Nheambiú, que se apaixona pelo guerreiro tupi Cuimbaé, prisioneiro dos guaranis. E como ela, após saber da morte de seu amor, se transforma no pássaro urutau, que entoa durante a noite um canto parecido com um lamento humano. Em “O dilúvio”, a mitologia indígena trata de uma lenda muito parecida com o dilúvio bíblico de Noé. Na versão guarani, avisado por espíritos antepassados que haveria um grande dilúvio, Tamendonaré se refugia com sua família em cima de uma grande palmeira (pindorama), se alimentando de seus frutos. Sobrevivendo ao dilúvio, o chefe indígena repovoa o mundo, sendo os guaranis seus seus descendentes diretos. E, em “O anhagá e o caçador”, Colaço retrata o terrível espírito protetor dos animais nas florestas brasileiras. Por vezes, Anhangá se disfarça ele próprio de animal para surpreender caçadores, principalmente aqueles que não respeitam animais ainda recém-nascidos ou fêmeas prenhes.