sexta-feira, 7 de março de 2014

No dia da Mulher, o aniversário de Helena Turl

A enfermeira Helena, em 11 de agosto de 1984, na campanha de vacinação, nos Frades
   Oito de março, está sendo lembrado hoje o Dia Internacional da Mulher. As comemorações serão muitas, no mundo inteiro, e Teresópolis participa da festa até semana quem vem, quando ocorre no dia 14, programação em lembrança do dia na praça Balthasar da Silveira, na Feira da Mulher. Duas exposições abertas a partir deste sábado, na Casa de Cultura Adolpho Bloch e Casa da Memória Arthur Dalmasso, “Olhar Feminino” e “Mulheres na História”, reafirmam a importância da data, e do mês de março que é dedicado às mulheres.

   É tempo de cultuar as personalidades femininas que se destacaram e estão vivas na memória através dos relatos dos seus feitos. Quem não sabe quem foram Ana Neri, Teresa de Avila, Teresa Christina... E as mulheres teresopolitanas? Certamente sabe-se bem quem foram aquelas que estiveram à frente de movimentos sociais, ou que foram empreendedoras e têm a maioria delas, por isso, guardadas as suas memórias nas placas das ruas e de prédios, ou através dos documentos oficiais que relatam os feitos daquelas que ocuparam cargos públicos - já tivemos mulher prefeita, mulheres juízas e promotoras, mulheres vereadoras, e foram várias.

   Hoje, então, é dia para lembrar de todas essas mulheres. E difundir as suas virtudes, para que seus feitos sejam repetidos pelas gerações que virão.

   Todas merecem o devido carinho. E, a mim especialmente, cabe lembrar de uma mulher teresopolitana, entre tantas, para que se resuma e represente as qualidades das demais. Poderia falar de uma mulher que se destacou na política, na educação, no esporte, na cultura, ou num negócio qualquer. Mas, estaria cometendo uma injustiça grande se não lembrasse aqui, para registrar a garra das mulheres - e definindo a importância de todas elas! -, de uma mulher que não foi professora, nem atleta, escritora e empreendedora, ou muito menos ocupou cargo público algum.


   Hoje, 8 de março, é também dia de aniversário da enfermeira Helena Turl. No dia da Mulher em 2014, essa amiga de tanta gente na cidade comemora seus 78 anos. Vai passar o dia da Mulher preocupada com os outros, certamente, como sempre faz. No mês passado estava envolvida com a entrega de uma cama hospitalar para uma pessoa que nem conhecia direito e, lembro da última vez que a ví, em dezembro, tinha me procurado no DIÁRIO para fazer uma reportagem em seu bairro que sofre de males que são crônicos em toda a cidade: buracos, falta d'água, luz fraca e ônibus com frequentes atrasos...


   Dona Helena é assim. Vive pelos outros, sejam seus filhos, netos, amigos ou vizinhos. Essa senhora de grande compaixão nasceu em 1936, na Barra do Imbuí, filha de Aurino Claussen Turl e Maria Corina Paim Turl. Teve a mesma infância de toda criança sem problemas e, quando atingiu a idade escolar, foi alfabetizada pela mãe, logo depois cursando o primário no Grupo Escolar Higino da Silveira e, mais tarde, o curso ginasial no Colégio Teresa Cristina.

   Toda criança, ou melhor, todo ser humano tem uma meta a atingir na vida e Helena teve como sonho ser enfermeira e trabalhar em hospitais. O exemplo para esta profissão ela teve em casa: sua mãe era enfermeira do Posto de Saúde e era também a única pessoa do bairro que aplicava injeções, sendo esse o motivo pelo qual achava importante ser enfermeira: “eu queria ser igual a minha mãe! Aos 12 anos me senti quase realizada, pois tive a oportunidade de aplicar minha primeira injeção. Aos 16 casei-me e tive três filhos: José Carlos, Lúcia Helena e Vera Lúcia, que me deram seis netos: Flávia, Luciano, Tatiana, Ana Paula, Artur e Rafaela. Com 19 anos ingressei no Hospital Municipal para exercer a profissão de enfermeira. Estava realizada...”, disse em entrevista a O DIÁRIO, em 2008. “Ser enfermeira não é andar de capa esvoaçante; não é ter o dia inteiro o uniforme imaculadamente branco; não é ter os cabelos sempre arrumados ou estar sempre bem vestida... Na vida real, a enfermeira tem, no final do dia de trabalho, o uniforme um pouco amassado; os cabelos rebeldes saindo para fora da rede; as pernas doloridas de tanto andar de um lado para o outro... Tive grandes emoções, mas a maior de todas foi quando realizei meu primeiro parto. Pela primeira vez ajudei com minhas mãos uma criança nascer, um ser humano com um futuro à sua frente. Quando me lembro disso, vem à minha mente a frase de que em cada criança que nasce renasce a esperança que Deus ainda tem fé na humanidade”, relatou.

   Helena Turl trabalhou em diversos hospitais. Ela é do tempo do Hospital Municipal, da Casa de Saúde Nossa Senhora de Fátima, da Maternidade Doutor George Beutner, das campanhas de vacinação pelo interior...

   Na entrevista que deu a O DIÁRIO, Helena lembrou que a “melhor seção” onde trabalhou foi o Centro Cirúrgico, onde se sentiu mais realizada. Aposentada em 1994, a enfermeira afastou-se da lida nos hospitais, mas continuou, e continua, buscando aplicar o seu conhecimento. Fez o parto da filha e da nora e teve nos braços, antes de qualquer outra pessoa, os netos Flávia e Luciano.

   Mas, cuidar da saúde da família, dos vizinhos e até de gente que não conhece é pouca tarefa para Helena. A enfermeira ainda arranja tempo para outra atividade que faz como lazer. Helena Turl cuida também da memória de Teresópolis. Coleciona livros, fotografias, ilustrações, folhetos, cartões de família e centenas de recortes de jornais contendo notícias sobre sua família, em especial sobre os feitos de seu bisavô, Coronel Henrique Fernando Claussen, num exemplo de profundo respeito por aqueles que, inegavelmente, prestaram relevantes serviços e contribuíram efetivamente para o desenvolvimento de Teresópolis.

   Irmã de Evani, Marilda e José Luiz, Helena Turl guarda também, como não poderia de ser, a memória do seu tempo de hospital. São valiosas informações sobre seu trabalho como enfermeira, além de diversas fotografias de seus colegas, orientadores e profissionais que nos últimos 50 anos trabalharam e contribuíram para o desenvolvimento da Medicina no município e para o crescimento da instituição.

  UM POUQUINHO MAIS SOBRE DONA HELENA
   Em 14 de julho de 1955, data do aniversário de sua mãe, Maria Corina (nome de praça na Barra do Imbuí), Helena iniciou seu trabalho como auxiliar de serviços gerais do Hospital Municipal, começando assim a realização de um sonho que acalentava desde criança: ser, a exemplo da mãe, uma enfermeira. No início, exerceu tarefas simples como servir comida aos pacientes, abastecer os reservatórios de água mineral que ficavam próximos aos leitos e, nas horas vagas, fazer barba e cortar os cabelos dos enfermos.
   Segundo a própria Helena Turl, ela, sempre muito tímida, um dia estava fazendo a barba de um dos doentes internados no Hospital, quando sentiu que estava sendo observada. Nervosa, olhou e se deparou com o então diretor da instituição, doutor George Beutner, e com o prefeito municipal José de Carvalho Janotti, que fez um comentário: “Nosso hospital está ótimo, temos até barbeira”.
   Mas, aqueles dias foram árduos. Helena, porém, superava a cada dia os obstáculos que se apresentavam, sempre visando atingir seu ideal. Não foi fácil sobreviver com um salário, à época, de apenas “quinhentos cruzeiros”, e ter que conviver com os constantes atrasos de pagamento que eram comuns pela Prefeitura, tendo ainda que trabalhar dobrado para suprir as faltas de seus colegas de trabalho. 
   Foi em um destes dias, com o Hospital Municipal lotado de pacientes, que as enfermeiras, atrapalhadas, puderam contar com a atenção e a proposta de ajuda de Helena Turl. Ao ser inquirida se sabia verificar a temperatura, imediatamente a jovem disse que sim, acrescentando que sua mãe, Maria Corina, era enfermeira do Posto de Saúde e que sempre a acompanhava quando ia, de 3 em 3 horas, aplicar penicilina, colocar soro e fazer curativos nos enfermos que se encontravam acamados em residências, pois Corina não trabalhava com pacientes internados. Esta rotina fez com que Helena adquirisse conhecimentos e experiências, aliadas às observações que sempre fazia, o que proporcionou à pequena jovem de apenas 12 anos aplicar a primeira injeção. 
   Os atributos profissionais, dedicação e vocação de Helena logo foram observados pelo médico e então diretor do Hospital Municipal, doutor George Beutner, que um dia profetizou: “Você será uma boa enfermeira. Compre um sapato branco, pois ao uniforme você tem direito e, a partir do dia 1º de janeiro (1956) você trabalhará como enfermeira”.
   E, é a própria Helena Turl dos Santos que conta: - “No dia 1º de janeiro de 1956 recebi meu uniforme imaculadamente branco, e só Deus sabe como me senti feliz. Não consigo esquecer que trabalhei como servente por apenas seis meses e, graças ao meu esforço, à experiência de vida que minha mãe tinha me passado e à compreensão das pessoas sensíveis, vi meu ideal a começar a ser conquistado... Não demorou muito fiz o primeiro parto, orientada por um enfermeiro. Nasceu uma linda menina! Foi uma sensação de felicidade muito grande quando percebi que tinha ajudado alguém a vir ao mundo. Depois tive a oportunidade de sentir essa emoção gostosa por muitas vezes, pois realizei 427 partos em casa e no hospital”.
   Helena Turl dos Santos trabalhou com enfermeira por 39 anos, até 22 de dezembro de 1994, dia em que assinou o livro de ponto pela última vez. Quando viu sua certidão de tempo de serviço, a emoção foi intensa, fazendo-a chorar de orgulho, ao constatar o dever cumprido. Trabalhou com centenas de profissionais, desde do primeiro diretor, doutor George Beutner, em 1956, até seu último chefe, o médico Getúlio Kader.