sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

   Hoje é aniversário do meu irmão Laércio, que mora em Minas Gerais

Eu e Laércio, no Cultura de Raiz, domingo na Casa de Cultura

     Saí de casa com dezesseis anos de idade. Morava em Muriaé, com meus pais e dois irmãos: Wantuil, de 18 e Wandercy, de 13. Meus outros 7 irmãos - Laércio, Lucy, Denilda, Carmem, Alércio, Carlinhos e Dirce - já estavam casados. Era 1974 e fui para Três Rios, onde morei sozinho, ficando também um tempo na casa do Alércio, que era 10 anos mais velho que eu. Coincidentemente, fazemos aniversário juntos - somos de 1.o de outubro, eu de 1958 e ele de 1948.

   Fiquei até março de 1977 naquele lugar onde trabalhei em jornal, gráfica e rádio. Vim a Teresópolis pela primeira vez em fevereiro daquele ano, acompanhando um grupo da igreja Batista. Gostei de uma garota aqui e, como nada me prendia onde morava, me mudei pra cá. Morei no Jardim Pinheiros por um tempo, e no Comary por outro, até que me casei em 4 de março de 1978, indo residir com Linea numa casinha de aluguel no Morro dos Pinheiros.

   Se o namoro é um filme, o meu foi um curtametragem. Depois do flert e rápido namoro, noivado e, seis meses depois, o casamento. Rápido também - respeitando-se os prazos de praxe, claro -, vieram os filhos, o primeiro nasceu em fevereiro de 1979.

   Enquanto eu tinha morada em Três Rios e não tinha namorada em Teresópolis, de dois em dois meses visitava meus pais, já com mais de 60 anos. Depois que conheci Linea, essas visitas rarearam e chegava a demorar ano, o que me incomodava mas não tinha como ser diferente. Eram tempos difíceis e, além de criar os filhos, e ainda trabalhar como empregado, estava montando o meu negócio.

   Já nascidos os quatro filhos, e isso se deu nos 10 primeiros anos de casado, voltei em Minas para visitar meus pais. Era dia de casamento e acabei indo à igreja Metodista, onde meu pai era zelador e diácono. Meu irmão mais velho conhecia todos os membros, e fazia questão que eu desse os parabéns aos noivos, mais amigos dele que meu.

   Era 1990 e cheguei num Opala 1986, duas portas, "quase do ano" que tinha acabado de comprar. Tinha a cor bege, bancos de veludo, faróis amarelos e nenhuma morça. Acho que foi minha única viagem para Minas com ele. Perdi essa raridade ainda naquele mês, quando resolvi vender tudo que tinha de valor afim de juntar dinheiro para comprar uma máquina nova para o jornal, que já tinha criado em 1988. Quando digo perdi, é porque perdi mesmo. Naquele ano, de posse do Collor, em março, estava com todo o meu dinheiro no banco quando a poupança foi confiscada, ficando sem carro e sem máquina. Muitos foram roubados pelo governo naquele ano e o que doeu para tantos machucou mais em mim porque não se tratava de dinheiro poupado, mas de dinheiro retirado de outros compromissos e guardado para um sonho que não se concretizaria..

   A Isabel Cristina, minha filha mais nova e sempre agarrada à mãe, tinha um ano de idade. E, com apenas três anos, a Emille ainda queria o meu colo. O Wanderley Júnior, tinha 11 anos e, apesar de bastante independente, estava sempre por perto, como também eu fazia estar o Raphael, que tinha 8 - e porque vivia aprontando não o perdia  de vista.

   Apesar de ser o mais velho, meu irmão Laércio nunca deixou de ser criança. Ainda hoje vive aprontando e tudo pra ele é motivo de brincadeira. Se você cruzar as pernas e deixar os chinelos soltos, um deles vai sumir.  E, se fechar os olhos perto dele, quando for sentar-se à mesa é bom conferir se ele não arrastou a cadeira.

   Noite quente dentro do modesto templo, fomos para a recepção num varandão dos fundos. Meu irmão foi me apresentando aos seus amigos, alguns que também me conheciam embora eu não lembrasse mais bem deles.
- Esse aqui é o Wanderley, lembra? O do meio, que saiu de casa ainda criança. Foi para Teresópolis onde está muito bem, disse.
- Lembro pouco dos irmãos mais novos. E, me perguntou o amigo do Laércio, o que eu fazia...
Antes que eu respondesse, e aparentemente orgulhoso, meu irmão sentenciou:
- Rapaz, esse meu irmão está muito bem. Mora naquela cidade que não faz calor, e conhece todo o pessoal importante de lá. Quando saiu daqui não tinha nada e hoje... já tem quatro filhos.

   Meu irmão é incorrigível e, talvez por isso, seja tão querido. Está sempre presente e, ainda hoje, com os seus 70 e poucos anos - o Laércio faz aniversário hoje, dia 7 de fevereiro! -  de vez em quando, do nada, ainda apronta uma gozação que não conhecemos. Essa, que aprontou comigo vinte e tantos anos atrás, nem é uma brincadeira. Costumo dizer que foi uma das maiores verdades que ele, criança confessa que é, já disse. Afinal, que riqueza maior existe senão os filhos?