domingo, 13 de abril de 2014

Jurandy do Sax e seu passeio de canoa, atração que leva turistas à Lagoa do Jacaré

LAGOA DO JACARÉ


   As boas idéias precisam ser copiadas e aproveitadas


   Dois anos atrás, fui a Natal. Não estava a trabalho, muito pelo contrário, mas aproveitei para observar algumas curiosidades da região e, certamente, a que mais me provocou, e que vale compartilhar a experiência com quem venha a ler o texto, foi um passeio turístico que fiz ao estado vizinho do Rio Grande do Norte, a Paraíba.


   Não que eu queira fazer aqui uma digressão sobre as minhas "impressões de viagem", longe disso, mas valeu todo o passeio a João Pessoa. A cidade fica a 180km de Natal, e o passeio é feito em vans ou microônibus com o serviço de guias que informam sobre as curiosidades da região. É uma viagem cansativa, e que não vai agradar tanto aos que não dão tanta importância à história do Brasil. Afinal, quem estaria ávido em saber sobre o "herói morto" João Pessoa ou o amargo poeta Augusto dos Anjos, o poeta de um livro só? E o que tem de diferente nas feirinhas e na gastronomia da Paraíba que justifique o sacrifício de sair do conforto do hotel às 6h30m da manhã?


   Fechando o passeio, por volta das 15h, chega-se à lagoa do Jacaré, propagada desde as primeiras horas da manhã como a grande atração do dia. É um lugarzinho comum, num canto da cidade, destacando-se as barracas de artesanato e os restaurantes avançando em deques sobre o rio, um lugarejo onde há dez anos havia apenas uma grande área baldia, hoje uma vila, chamada "Lagoa do Jacaré". E, nesse "lago", todo dia à tarde, o músico Jurandy do Sax interpreta o Bolero de Ravel (Boléro, de Maurice Ravel), culminando com o por do sol, que esconde-se no cenário da vegetação distante, ao longe da outra margem do rio.

   É o maior engodo que existe. Não há Jacaré e nem lagoa e a atração nem fica em João Pessoa. Está numa cidadezinha chamada Cabedelo, na periferia da capital. Mas, nem por isso, o turista fica frustrado. Basta observar que o termo "pegar um jacaré" vem daí. É que, nos anos 1950, o hidro-avião cargueiro que pousava no rio tinha um jacaré enorme pintado em sua barriga e quando a aeronave caía na água provocava ondas nas margens, permitindo aos banhistas "pegar a onda do jacaré", daí a expressão que correu o Brasil.
O local é pura cultura, repetindo bem a forma americana de produzir atrativos turísticos. Os Estados Unidos, com uma história pouco interessante, é o segundo país mais visitado do mundo, onte até o local em que tombaram as torres gêmeas se transformou em ponto de atração. Paraíba e Natal, aliás, sofrem grande influência da cultura estadunidense. Em função da guerra, nos anos 1940, os americanos praticamente recolonizaram a região da ponta do Seixas, ponto cardeal leste do país, a menor distância por mar entre os continentes americanos e africano.


   Para o turista comum, que desde as 15h começa a lotar as margens do rio, chamado "Paraíba", é um momento de lazer e contemplação, oportunidade também para se degustar frutos do mar, bater um papo e fazer imagens do ocaso do sol. Mas, para o visitante de um olhar mais aguçado, e que mora numa cidade com vistas muito mais deslumbrantes, e pontos turísticos com potencial ainda maior, a observação toma outro rumo. É quando percebemos o quanto ligamos tão pouco para as nossas belezas naturais. Imagina alguém tocando violino ao acompanhamento do som natural da Cascata Imbuí com os artesãos vendendo seus produtos nas margens de um dos pontos mais bonitos do rio onde Ceci e Peri se banharam, lugar que deslumbrou também grandes poetas brasileiros, entre eles Manuel Bandeira, Adelmar Tavares e Lúcio de Mendonça?


   São tantas coisas a serem sonhadas, e tantas outras por serem realizadas...