domingo, 9 de março de 2014

FERNANDO MARTINS, O PINTOR DE TERESÓPOLIS

A partir da direita, Conceição e Ana Maria, do Serviço de Patrimônio Histórico Municipal;
Amadeu Laginestra, Gilberto Nascimento, João Nogueira, Camilo Michalka, Zezinho, ex-secretário
de Cultura Elias Martins e José Maria Carneiro, atrás deste, Arthur Dalmasso, na homenagem
ao pintor Fernando Martins, em 1990, no hall da Prefeitura Municipal
   Nicolau Facchinetti, Manoel Madruga, Eliseu Visconti, Manoel Santiago... Sami Mattar, Camilo Michalka, José Ramon, Alexander Robin... E tantos outros artistas que pintam Teresópolis.

   Ao longo dos anos, nossa região vem encantando muitos pintores. São vários, todos eles reproduzindo as imagens que retratam as montanhas ou reportando a cidade que se transforma e oferece cenários inéditos a cada dia. 

   Muitos paisagistas se destacaram ao mostrar nossa região para o mundo. Mas, entre tantos, e pelas tantas telas produzidas, Fernando Martins se projeta, e se destacou, ganhando o título de “pintor de Teresópolis”. Nascido em Portugal, o artista veio ainda criança para o Brasil, onde fez seus primeiros estudos. Expôs pela primeira vez, no Salão Nacional de Belas Artes, em 1933, com apenas 22 anos. Jornalista, mostrou as coisas bonitas de Teresópolis para o mundo através de suas crônicas e textos no jornal O Globo, e em diversas revistas.

   Português do Porto, o pintor de Teresópolis viveu a adolescência no bairro Santo Cristo, no Rio de Janeiro. Jovem, ocupou-se de vários trabalhos, estudou à noite, e iniciou-se nas artes plásticas no Liceu de Artes e Ofícios, onde fez curso de desenho e modelagem. Frequentou as rodas de artistas que se reuniam na Casa Cavalier e no Café Gaúcho, na rua São José, e conheceu os grandes pintores do Rio de Janeiro de sua época, entre eles, Manoel Santiago, Dacosta, Rescala, Malagoli, Pancetti e o professor Armando Viana, que seria seu grande amigo, mestre e incentivador.

   Desencontrado no casamento e preocupado com a preservação da saúde, Fernando Martins decidiu  abandonar tudo que tinha no Rio de Janeiro e comprou passagem - somente de vinda - no trem que o trouxe para Teresópolis.

   "Saltando na Estação do Alto, Fernando Martins hospedou-se a poucos metros dalí, na Pensão Serrana, de propriedade do mecenas Celso Moreira - que aceitava receber o pagamento em obras de arte. Homem insinuante e de fácil comunicação, o pintor logo fez amigos nos vários segmentos comunitários, especialmente naqueles mais ligados à arte e cultura. Ingressaria mais tarde na Academia de Letras e seria um dos fundadores da Academia Cultural e Artística, assumindo a responsabilidade didática de ministrar cursos de desenho e pintura. Amor pela terra à primeira vista, saiu a campo e logo descobriu as cores do arco-iris nas hortênsias, sananduvas, buganvilias, acácias e quaresmeiras, que passaram a ter lugar cativo e alternado na composição de suas típicas paisagens serranas. Passou, então, a ser qualificado como o 'pintor de Teresópolis', título surgido espontaneamente na voz do povo, que lhe reconheceu talento e inspiração".

   Aqui, preferiu as flores, as serras e rios, e guardou as cores da cidade nos quadros que os turistas faziam questão de levar de lembrança, repercutindo a beleza do lugar. Em 1949, recebeu da prefeitura a incumbência de pintar cinco grandes painéis iconográficos que ainda hoje decoram as paredes mais nobres da prefeitura Municipal. 

   Segundo os críticos de sua arte, “não se pode dizer que essas sejam suas melhores obras, já que as grandes dimensões (2,80x1,85) e o próprio conceito de painel/mural determinavam uma simplificação na fatura e dificultavam um trabalho esmerado, desde que o pintor, inferiorizado ante o gigantismo da tela, defrontava-se com os problemas decorrentes  da perspectiva e da distância. Mas são, sem dúvida, as suas obras mais grandiosas, mais conhecidas e mais populares, dignas da terra e do povo que o pintor quis homenagear, retribuindo a carinhosa acolhida que, de uma e de outro, sempre recebera”.

   Cidadão honorário de Teresópolis, Fernando Martins viu sua fama ultrapassar as nossas fronteiras quando seus quadros chegaram às mãos de Craveiro Lopes, de Portugal, e do presidente norte-americano Dwight Eisenhower. No auge da fama, o pintor morreu precocemente, aos 54 anos, em 1.o de julho de 1965. No ano seguinte, numa justa homenagem, virou nome de rua na Várzea, sendo ainda homenageado, em 1987, com um livro há muito tempo reclamado, contando sobre a sua vida cheia de surpresas e sua obra, “Fernando Martins, o pintor de Teresópolis”, editado pela Arte Hoje Editora, presente do marchand e professor de artes José Maria Carneiro. Em julho de 2011, em comemoração ao seu centenário, uma exposição na Casa da Memória Arthur Dalmasso mostrou sua obra, sendo muito visitada.

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  FERNANDO MARTINS NA CASA DE PORTUGAL
   Nascido tripeiro, na cidade do Porto, aos 18 de março de 1911, veio para o Brasil ainda muito criança. Uma doença, ainda rapaz, o trouxe para Teresópolis, de onde nunca mais saiu, aprendendo desde cedo a amar sua natureza, as montanhas, os rios, as florestas e as flores.
   Iniciou seus estudos de desenho no Liceu Literário Português, no Rio de Janeiro, em 1928, e em 1930 passou ao Núcleo Bernardelli para estudos de desenho figurado.
   Em 1931, com o Professor Modestino Kanto, estudou modelagem e, no ano seguinte, iniciou-se em pintura como o Professor Armando Viana.
   Fez sua primeira exposição no Salão Nacional de Belas Artes aos 22 anos de idade, em 1933, tendo em 34 conquistado Menção Honrosa no Mesmo Salão.
   A partir daí, Fernando Martins conquistou, sem parar, diversos prêmios e menções honrosas em salões de inúmeras cidades brasileiras, tendo feito várias exposições pessoais, no Rio e em Teresópolis, a partir de 1944, sempre com grande número de quadros, apreciadíssimos.
   Seus trabalhos sobre Teresópolis levaram a fama das belezas da cidade a diversos cantos do mundo, havendo obras suas em coleções particulares, nos Estados Unidos, Canadá, países da Europa e da América do Sul.
   Fernando Martins era um poeta da cor. Seus quadros retratam principalmente a luz, penetrando por entre as folhagens, furando a penumbra tal como sua alma sofrida de artista necessitava da luz da esperança de dias melhores, traduzida por uma angústia existencial.
   Fernando Martins foi também um cronista apreciado, tendo feito parte da Sociedade de Letras do Brasil, colaborando com os seus escritos em diversos órgãos da imprensa.
   Muito ligado à comunidade, tomou parte em inúmeros movimentos e eventos, estando sempre presente em obras de beneficência, doando telas suas para que, leiloadas ou vendidas, revertessem em benefício dos mais carentes.
   Em 1960 retornou a Portugal, fixando sua obra em três fases distintas: a anterior e a posterior à volta à Pátria Mãe, e a portuguesa, de onde voltou com uma coelação de pinturas que retratavam os aspectos peculiares da terra lusíada, muito disputada, por sinal, entre brasileiros e portugueses.
   Fernando Martins deixou nosso convívio em 1º de julho de 1965, com apenas 54 anos, legando à posteridade uma obra que, com suas cores e formas vibrantes, o torna presente entre aqueles que possuem um quadro seu, assim como presente está nas magníficas telas gigantes, em exposição permanente nos saguões e salões da Prefeitura Municipal de Teresópolis, terra que tanto amou.

* Texto do médico Fernando Morgado, para a exposição retrospectiva em comemoração ao “Jubileu de Prata” da Casa de Portugal de Teresópolis, em 1º de dezembro de 1984.