sexta-feira, 21 de março de 2014

Quiosque das Lendas, o Mirante da Granja Guarani como era no ano de 1938


Em 1938, mesa e cadeiras para os visitantes do Quiosque das Lendas

   No último domingo, a Granja Guarani esteve em festa para comemorar a posse, pela municipalidade, do Quiosque das Lendas, caramanchão que em breve será restaurado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural. Atrativo turístico, sítio histórico que remonta a origem dos bairros de Teresópolis, local que transpira arte e cultura,  o Mirante da Granja Guarani acabou em ruínas e foi preciso uma ação do Ministério Público Estadual para que o bem fosse recuperado.


   A ação foi proposta em 2010, e decidida em março de 2011, quando abriram-se prazos para os envolvidos - Estado, Município e proprietário do bem - cuidarem da recuperação que dependia de doação do terreno, escrituração em nome da municipalidade e o restauro.

Intacto, o Mirante da Granja tinha até lustres
   Chamado pela Cultura de “ocupação”, o evento levou ao Mirante os que gostam do lugar, os que dele têm boa memória, e ainda artistas e escritores, entre eles o cartunista Ziraldo, que acompanhou o movimento iniciado às 15h, permanecendo até o início da noite, contando suas histórias, distribuindo livros e interagindo com o povo do lugar, especialmente as crianças, que encantaram-se com o seu jeito e forma de lidar com os assuntos de Teresópolis, cidade de sua esposa Márcia Martins, filha do ex-vereador Wilson Martins, e que o acompanhou na visita.

   “Situada entre os caminhos sinuosos da Granja Guarani”, onde se desfruta de um amplo e belo panorama da Serra dos Órgãos, da CBF e do bairro do Alto, a construção neocolonial ainda guarda resquícios da beleza que provocou visitantes do mundo inteiro e de veranistas, encantados com o seu estilo arquitetônico de influências coloniais mexicanas e mouriscas. Também conhecido como “Quiosque das Lendas”, o bem é composto por dois corpos interligados por um avarandado coberto, encimando uma grande elevação que forma uma espécie de platô, o mirante tem cobertura em telha-canal com coruchéus, que remetem aos caramanchões por sua forma circular, daí ser também conhecido como “caramanchão” da Granja Guarani.
Album de fotografias do Pró-Memória revela o Mirante em 1938

   Centro das admirações dos que se preocupam com a memória, a interessante construção emoldurada por colunas tosca-nas de capitel simples e arcos de alvenaria revestidos com azulejos portugueses é obra do engenheiro teresopolitano Carlos Nioac de Souza. Produzidos em Lisboa no ano de 1929, os azulejos que revestem o mirante foram pintados  pelo renomado artista Jorge Colaço (1864-1942) e contam quatro lendas indígenas: O Dilúvio”, “O Anhangá e o Caçador”, “A moça que saiu para procurar marido” e “Como apareceu a noite”. O autor dos traços fortes, em azul sobre branco, foi um dos maiores azulejistas de Portugal no princípio do século XX, com  trabalhos expostos desde o Palácio de Windsor na Inglaterra, até o Centre William Reppard na Suíça, passando por países como Cuba, Argentina, Brasil e Portugal.

   Tombado em janeiro de 1988 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural - INEPAC, que o catalogou como “uma pequena jóia neocolonial”, o Mirante da Granja Guarani é “protegido” também pela Lei Orgânica Municipal, de 1990. Mas, embora tenha grande importância histórica para o município, além de seu enorme apelo turístico e cultural, o prédio acabou em ruínas, recebendo agora a atenção da Cultura, após providencial intervenção do Ministério Público.