sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


Carramanhão da Granja Guarani, em fotografia dos anos 1970

  O Quiosque das Lendas

     Atrativo turístico, sítio histórico que remonta a origem dos bairros de Teresópolis, local que transpira arte e cultura... Apesar de uma importância que engloba vários interesses públicos, e de tantas promessas pela sua recuperação, o Mirante da Gran-ja Guarani está em ruínas.
     Situada entre os caminhos sinuosos da Granja Guarani, onde se desfruta de um amplo e belo panorama da Serra dos Órgãos, da CBF e do bairro do Alto, a construção neocolonial emoldurada por colunas toscanas de capitel simples e arcos de alvenaria revestidos por azulejos portugueses, ainda guarda resquícios da beleza que provocou visitantes do mundo inteiro e de veranistas, encantados com o seu estilo arquitetônico de influências coloniais mexicanas e mou-riscas. Composto por dois corpos interligados por um ava-randado coberto, encimando uma grande elevação que forma uma espécie de platô, o mirante tem cobertura em telha-canal com coruchéus, que remetem aos caramanchões por sua forma circular, daí ser também conhecido como “carramanchão” da Granja Guarani.
     O revestimento em azulejos portugueses, produzidos em Lisboa, no ano de 1929, é obra do renomado artista Jorge Colaço (1864-1942) e contam quatro lendas indígenas: O Dilúvio”, “O Anhangá e o Caçador”, “A moça que saiu para procurar marido” e “Como apareceu a noite”. O autor dos traços fortes, em azul sobre branco, foi um dos maiores azulejistas de Portugal no princípio do século XX, com  trabalhos expostos desde o Palácio de Windsor na Inglaterra, até o Centre William Reppard na Suíça, passando por países como Cuba, Argentina, Brasil e Portugal.
     Centro das admirações dos que se preocupam com a memória, o Mirante da Granja Guarani provoca também historiadores e alunos de disciplina de introdução aos estudos históricos. Em artigo científico produzido para o Curso História da Universidade Norte do Paraná - Unopar, Marcelo Fabiano Maia Ferreira, estudou as lendas indígenas expostas no Mirante. “Em “O dilúvio”, a mitologia indígena trata de uma lenda muito parecida com o dilúvio bíblico de Noé. Na versão guarani, Tamendonaré (Tamandaré) avisado por espíritos antepassados que haveria um grande dilúvio, se refugia com sua família em cima de uma grande palmeira (pindorama), se alimentando também de seus frutos. Sobrevivendo ao dilúvio, Tamendonaré repovoa o mundo, com os guaranis se considerando seus descendentes diretos. Na lenda “Como a noite apareceu”, conta-se a história de como a filha do Cobra Grande fez três emissários de seu jovem noivo roubarem o côco de tucumã de seu pai e assim liberar a noite sobre o mundo, com pássaros que cantam ao amanhecer e outros ao anoitecer. Em “O anhagá e o caçador”, Colaço retrata o terrível espírito protetor dos animais nas florestas brasileiras. Anhangá, que por vezes se disfarça ele próprio de animal para surpreender caçadores, principalmente aqueles que não respeitam animais ainda recém-nascidos ou fêmeas prenhes. Por último, na lenda “A moça que saiu para procurar o marido”, é relatada a história da índia guarani Nheambiú, que se apaixona pelo guerreiro tupi Cuimbaé, prisioneiro dos guaranis. E como ela, após saber da morte de seu amor, se transforma no pássaro urutau, que entoa durante a noite um canto parecido com um lamento humano”, conta o aluno em seu trabalho, encomendado pelo professor de história, Dirceu Casa Grande Júnior.

     Tombado em 11 de novembro de 1982 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - INEPAC, catalogando-o como “uma pequena jóia neocolonial”, o Mirante da Guarani é protegido também pela Lei Orgânica Municipal, de 1990. Mas, embora tenha grande importância histórica para o município, além de seu enorme apelo turístico e cultural, o prédio representa hoje apenas um monumento ao descaso das autoridades que, ao longo dos últimos trinta anos, deixaram que ele chegasse ao deplorável estado em que se encontra.

8 comentários:

  1. Infelizmente, se continuar o descaso e o abandono das autoridades municipais, manifestados pela inoperância de sucessivos Secretários de Cultura e/ou Turismo, realmente, este carramanchão ficará apenas na memória, uma vez que o mesmo está praticamente em ruínas.

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  2. Carlos, os culpados pelo estado deplorável do Mirante da Granja Guarani são muitos, inclusive as autoridades, certamente. Mas, a certeza da impunidade talvez seja a maior responsável pelo fim do monumento. Quando alguém que destrói patrimônio histórico for preso - e digo proprietários e usuários destes bens! - a coisa pode mudar de rumo.
    Hoje, o Mirante é um caso de polícia.

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  3. Wanderley Peres, em que pesem suas explicações, considerando que voce admite certa parte de culpa por parte das "autoridades " gostaria de saber o que voce fez em prol do Carramanchão da Granja Guarany, enquanto Secretário Municipal na Administração passada, ou até mesmo o que voce pretende fazer por ele e outros bens públicos de interesse cultural e/ou turístico da Teresópolis, agora que voce novamente ocupará tão importante pasta do executivo municipal, responsável direto pela preservação, manutenção, fiscalização, recuperação e divulgação destes patrimônios Municipais ???
    Concordo que a falta de educação e cidadania de nossos concidadãos também é fator principal da depredação. Ao passo que estes meliantes são caso de polícia, a omissão das autoridades são crime de responsabilidade.

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  4. Os alertas que a AMAGG a sua diretoria vem fazendo há tempos sobre o descaso do Poder Público para com dois dos principais pontos turísticos da cidade, o Mirante da Granja Guarani (que os mais antigos preferem chamar de Carramanchão) e o Lago Iacy (que os mais antigos preferem chamar de Lago do Saldanha), finalmente ganharam eco na cidade.
    O assunto já foi alvo de inúmeras reportagens, na imprensa teresopolitana e também na mídia estadual, mas, agora, ao que tudo indica, começamos a mexer com os brios de pessoas direta e indiretamente ligadas à política local, o que por si só traduz uma inversão de valores, o que nós, moradores e freqüentadores do bairro até iremos relevar, pois o que nos interessa é a recuperação dos monumentos.
    Os debates sobre o tema revelaram bastidores que envolvem a política cultural e turística do município, ou melhor,a tentativa de se implementar uma gestão responsável do setor e as pedras no meio do caminho para sua concretização.
    Até aí, novidade nenhuma, porque cultura, turismo, esporte e meio ambiente (não necessariamente nessa ordem) geralmente são as pastas menos aquinhoadas nos orçamentos municipais país afora. Em contrapartida, sabemos que há verbas disponíveis e quase sempre não utilizadas no Estado e na União para a implantação de projetos nessas áreas, notadamente para os municípios que são estâncias turísticas, como é o caso de Teresópolis.
    Aí é que deveria entrar em ação o bom gestor público. Para se obter essas verbas é necessário elaborar e apresentar os projetos nas respectivas secretarias estaduais e ministérios. Há um emaranhado burocrático a ser superado e a necessidade de acompanhamento de cada passo da solicitação de recursos. Dá trabalho, mas não é difícil. O que não pode é ficar no gabinete esperando a verba cair do céu.
    Paralelamente à essa “verba técnica” há a possibilidade de obtenção de recursos através das chamadas emendas parlamentares. Essa é a “verba política”, muito mais fácil de ser obtida, e que só depende da boa vontade do prefeito, vereadores, deputados e outros entes políticos que podem solicitá-la através de seus partidos na Assembléia Legislativa ou no Congresso Nacional.
    O bom para nós, da Granja Guarani, é que o assunto ganhou contornos que até não esperávamos, mas, foi o suficiente para notícias alentadoras, como a levantada por Luciano Zimbrão, que teria ouvido de alguém próximo do prefeito (pelo menos assim imagino), que a recuperação do Lago estaria nos planos do alcaide já no próximo mês.
    Ainda é incipiente o debate sobre a também mais do que necessária recuperação do Mirante. Tanto de um lado quanto de outro há interesses particulares que precisam ser sepultados para o bem público.
    Aguardamos ansiosamente para o desfecho positivo nos dois casos. Caso contrário, mantenho minha sugestão à AMAGG de uma manifestação popular em frente à Prefeitura, fechando a reta e não a liberando até uma manifestação oficial favorável ao bairro e ao município. Não acredito que isso será necessário, mas, se o for, pode ter certeza que os cerca de 400 quilômetros que me separam do bairro que nasci estarão tão longe quanto os 40 centímetros que separam dois passos meus

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  5. Sr. Jornalista Wan Der Ley Peresm que pese suas explicações, considerando que voce admite certa parte de culpa por parte das "autoridades " ( entre as quais voce fez e faz parte ) gostaria de saber o que voce fez em prol do Carramanchão da Granja Guarany, enquanto Secretário Municipal na Administração passada ou, até mesmo o que voce pretende fazer por este e outros bens públicos de interesse cultural e/ou turístico da Teresópolis, agora que voce novamente ocupará tão importante pasta do executivo municipal, responsável direto pela preservação, manutenção, fiscalização, recuperação e divulgação destes patrimônios Municipais ???
    Concordando que a falta de educação e cidadania de nossos concidadãos seja a causa das depredações, e que a conduta anti-social destes meliantes seja caso de polícia; creio que a omissão das autoridades, se não prevaricação, seja considerado crime de responsabilidade.
    Não seria o caso de tomar-se então providências em ambos os sentidos ?
    Bem sei o quanto o Sr. já pesquisou e já fez pela memória de Teresópolis, até para publicar em seu jornal. Creio que todos reconhecem.
    No entanto, sem maiores enrolações, será que poderia responder DIRETAMENTE, o que, como Secretário Municipal de Cultura, irá fazer de real e concreto quanto à recuperação e manutenção do Carramanchão da Granja Guarani ???
    Basta responder a isto, sem delongas ou estórias.

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  6. Prender quem destruiu esse bem seria uma boa iniciativa, Carlos. Mas, dentro do nosso limite de ação, acho que duas interferências são relevantes: 1) agilizar procedimentos da secretaria no sentido de pedir ao prefeito e à Justiça maior atenção para o problema e, 2) mais uma ação cultural no entorno do bem tombado, onde contaremos sobre as lendas expostas no apagado mirante. Para essa segunda ação, vamos divulgar a data e contar com a presença dos amantes da memória municipal. Até lá.

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  7. Num País onde não se prende nem os condenados do "Mensalão" e outros criminosos conhecidos, prender quem depredou é um pouco inacreditável.
    Considerando sua predisposição de fazer apenas uma "ação cultural" no entorno, Isto significa que voce ( ou a Secretaria de que é titular )não vai, ou não pode, intervir de fato e como seria de se esperar recompondo ou reformando as estrutura e cobertura do carramanchão. É isto?

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  8. Considerando suas explicações sobre, mesmo como Secretário, Não ter esse poder, tendo em vista que o MP entrou no circuito e a Justiça vem cuidando disso. E ainda, que o proprietário, e responsável pelo bem, que é "particular" ( e eu não sabia ), está sendo acionado e coagido a resolver o problema recuperando o monumento.
    Aí, realmente, concordo que voce não tenha culpa, que não é omisso, inoperante, etc... como eu o estava expondo, muito pelo contrário.
    À partir desta explicação sua ( e bastaria tê-la feita de início ) acredito, agradeço e apoio tudo o que voce fez, propõe e fará em prol daquele monumento.
    Desculpe-me e obrigado !

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